Livro 1: A criança surda e o desenvolvimento da linguagem (Livro Digital)

3.4.1 Literatura Surda

O uso da literatura é uma estratégia riquíssima para:

  • desenvolver a linguagem das crianças, aumentando o vocabulário e aprimorando a oralidade (produção da língua)
  • instigar a criatividade e imaginação,
  • incentivar a leitura,
  • apresentar um tema gerador para reflexão,
  • ampliar o repertório cultural, apenas para citar alguns exemplos.

A leitura de livros ou contação de histórias é bastante comum nas práticas pedagógicas da educação infantil e não deve se restringir a essa etapa da educação.

Mas, e como trabalhar com a literatura surda? Você já tinha ouvido falar nessa expressão?

Essa literatura mostra a perspectiva que os surdos têm do mundo, apresenta os interesses da comunidade surda e o sentimento em relação aos ouvintes, aprimora as habilidades de sinalização de seus espectadores, ensina valores culturais, colabora para o ensino de segunda língua e é uma atividade de entretenimento (Ryan, 1993).

Pela literatura, há identificação entre pares e a apropriação e produção cultural.

Pode ter como base vários gêneros textuais como piada/anedota, narrativa simples ou poesia e o uso de vídeos para o registro desses gêneros não os descaracteriza como sendo parte da literatura.

De acordo com Rosa (2011), a literatura pode agregar diferentes tipos de obra:

  1. a tradução, para a Libras, de histórias escritas originalmente para públicos ouvintes;
  2. a adaptação de uma história escrita originalmente para o público ouvinte, alterando alguns aspectos para que se aproxime mais das experiências dos surdos; e
  3. as produções elaboradas em língua de sinais já na sua origem, ou seja, literatura pensada pelo o público surdo e feita de forma visual.

Selecionar histórias que possuam personagens surdos colabora para a introdução de vários temas a serem trabalhados com as crianças. A contação de histórias em língua de sinais proporciona, entre outras questões, aumento de vocabulário cultural e historicamente construído, reconhecimento de diferenças culturais entre surdos e ouvintes, identificação da criança surda como tal, reconhecimento dos artefatos da cultura surda, percepção de aspectos prosódicos da sinalização (Stumpf et al, 2021).

Ao contar histórias sinalizadas, o professor precisa enfatizar as expressões faciais e corporais e manter-se no espaço visual da criança a fim de que ela se envolva e acompanhe a história.

Não precisamos desenvolver um tema gerador em todos os momentos da contação de histórias, pois a própria rotina pode ser permeada de comunicação significativa. Os momentos de higiene ou alimentação são oportunidades para nomear as partes do corpo, narrar o que devemos fazer depois de ir ao banheiro ou antes de iniciar uma refeição, aprender o que fazemos em cada cômodo da casa, dentre outras possibilidades.

Vale lembrar que a maioria das crianças surdas não tem esse tipo de diálogo com seus familiares e que todas as práticas devem ter intencionalidade pedagógica. Desse modo, é necessário que haja uma organização intencional do ambiente e de situações que favoreçam interações comunicativas mesmo com os bebês.

Dispor de materiais de cores, sons e texturas diversas proporciona experiências e ações diferentes sobre os objetos, instigando a curiosidade das crianças e oportunizando uma interação efetiva com a professora (Nogueira e Bissoli, 2017).

Algumas práticas incorporadas ao cotidiano escolar, podem impactar positivamente no processo de aquisição da língua de sinais, como os registros em vídeos. A ação de filmar a criança explicando os conteúdos vivenciados ou algum conceito aprendido em sala de aula, é uma estratégia interessante para que a criança surda organize suas ideias e pensamento em sua língua e desenvolva as competências discursiva, linguística e, consequentemente, a competência comunicativa.

PARA SABER MAIS!

Para conhecer mais detalhes sobre práticas pedagógicas em cada faixa etária na Educação Infantil, acesse o volume 2 da coleção de livros que trata do ensino de Libras como primeira língua!

Vol. 2 – Ensino de Libras como L1 na Educação Infantil