Livro 2 - Alfabetização e letramento de crianças surdas (Livro Digital)

1.5.2 Relação entre os sons e as letras

Referente ao segundo aspecto, da relação entre os sons e as letras, repare que: no que diz respeito à alfabetização de crianças surdas e de crianças ouvintes, enquanto para as ouvintes é necessário enfatizar as correspondências entre sons e letras, para as crianças surdas essa distinção não fará sentido.

Nesse ponto, precisamos falar do papel da ortografia no processo de alfabetização. Em termos gerais, a ortografia é uma forma de neutralizar a variação linguística, escolhendo uma forma de escrita ortográfica para a palavra. Por exemplo, a palavra balde pode ser pronunciada de diferentes formas, a depender do dialeto em questão. Porém, para normatizar a língua escrita, elege-se uma (ou mais de uma) forma para representar todas as variações dialetais.

A palavra pote, por exemplo, pode ser pronunciada de várias maneiras, como pote, potch, potchi, poti etc., mas uma delas será a forma ortográfica normatizada. É importante destacar que essa forma escolhida pode representar a fala de parte da população ou mesmo de ninguém, como é o caso da palavra muito, pronunciada com nasalização em qualquer variedade do português brasileiro (algo semelhante a muiNto – tente pronunciar sem a nasalização e sinta como soa “estranho”).

 

Mas qual a relação entre a ortografia e a alfabetização

No caso das crianças ouvintes, o processo de alfabetização parte da oralidade; ou seja, as crianças tendem, nas suas primeiras incursões na escrita, a escreverem como falam. Já as crianças surdas, que não se apoiam na oralidade, terão contato direto com as formas ortográficas das palavras. Essa distinção certamente terá impacto em metodologias diferenciadas para alfabetização de crianças surdas (experiência visual da palavra) e de crianças ouvintes (experiência que parte da oralidade).