Livro 2 - Alfabetização e letramento de crianças surdas (Livro Digital)

3. Alfabetização de crianças surdas

Agora que você compreendeu o que é alfabetização e letramento, e conheceu as especificidades relacionadas ao processo de apropriação da leitura e escrita por sujeitos surdos, vamos entender um pouco mais como ocorre a incursão inicial da criança surda no mundo da escrita.

Como sabemos, o aluno surdo aprende a escrita de um sistema alfabético, o qual busca representar o Português oral e a sua forma de organização da língua. Nesse sentido, as crianças aprendem a escrever uma segunda língua de uma segunda modalidade, isto é, eles precisam se apropriar de um sistema de escrita de uma modalidade oral/auditiva.

Por muito tempo, acreditou-se que para escrever bem era preciso falar. Por conta disso, é comum encontrarmos pessoas surdas que compartilham desse pensamento e afirmam que os ouvintes escrevem bem por serem falantes do Português como primeira língua. Isso não é uma verdade. A escrita não é um processo natural para nenhuma pessoa, seja ela surda ou ouvinte.

Aprender a ler e escrever exige outros processos que vão além da fonetização, trata-se de uma ação mental, cognitiva, motora e também sensorial. Sendo assim, qualquer criança que inicie a alfabetização precisa compreender a lógica desse processo, entender a funcionalidade da escrita em nosso cotidiano e a capacidade humana para simbolizar e representar o mundo por meio das palavras. No entanto, há uma condição primordial para que a criança seja consciente de todo esse desenvolvimento: a aquisição da primeira língua.

 

Você lembra o que estudamos no módulo anterior? Toda aquela discussão inicial sobre a aquisição da língua de sinais das crianças surdas é para que você compreenda a importância da língua de sinais na alfabetização das crianças surdas, pois é através dessa língua que elas interagem com seus pares, acessam informações, se constituem como sujeitos, constroem seu conhecimento enciclopédico e bases conceituais para aprender a segunda língua.

Segundo Peixoto (2006) a língua de sinais assume “papel semelhante ao que a oralidade desempenha quando se trata de apropriação da escrita pelo ouvinte”. Isso significa que esse processo de apropriação está diretamente relacionado ao conhecimento que a criança traz em língua de sinais, pois é através dessa língua que o surdo irá interpretar, compreender e buscar apoio para os primeiros registros escritos na segunda língua, da mesma forma que o aluno ouvinte faz com o Português oral.