Módulo 2: Literatura, linguagem e visualidade na educação de surdos (Livro Digital)
5.2 Letramento Visual
O letramento visual está vinculado ao sentido, ao ser surdo, aos artefatos da cultura surda e da língua de sinais, sendo composto por um conjunto de aspectos da visualidade.
Strobel (2008, p.40) comenta que
O primeiro artefato da cultura surda é a experiência visual em que os sujeitos surdos percebem o mundo de maneira diferente, a qual provoca reflexões sobre suas subjetividades:
De onde viemos?
O que somos?
Para onde queremos ir?
Qual a nossa identidade?
O letramento visual encontra correspondência nos conceitos de experiência visual e cultura visual. Tais conceitos não podem ser codificados como um conjunto de práticas individuais, mas sim como um conjunto de práticas sociais ligadas à leitura e à escrita em que sujeitos se envolvem no seu contexto social.
Segundo Dondis (2000), a visão é carregada de informação, mais que qualquer outro órgão ou sentido, e funciona com uma velocidade superior quando comparada a outros movimentos corporais. A imagem tem um papel importante no processo educacional, mas é ainda pouco reconhecida, muitas vezes utilizada com função decorativa, perdida entre a grafia de textos visualmente desinteressantes (Reily, 2003).
Para Foucault (2001) a imagem não pode ser reduzida a uma simples interpretação ou a significações, pois as imagens, para ele, são inesgotáveis.
“A imagem seria como uma porta (ou uma ponte) para outras imagens, uma espécie de trajeto a ser percorrido por aquele que olha. A ela cabe suscitar um acontecimento que transmita e magnifique o outro, que se combine com ele e produza para todos aqueles que vierem a olhá-lo e para cada olhar singular usado sobre ele, uma série ilimitada de novas passagens” (Foucault, 2001, p. 352).
Assim, podemos pensar na percepção do sensível que se mostra em relação ao visível, pois “o visível é o que se aprende com os olhos, o sensível é o que se apreende pelos sentidos” (Merleau-Ponty, 2013, p. 28). Mais do que as palavras, as imagens são significações infinitas representadas no ato de ver e sentir.
Reily (2003) salienta a necessidade de utilizar a imagem como recurso cultural que permeia todos os campos do conhecimento e que traz consigo uma estrutura capaz de instrumentalizar o pensamento.
Dessa forma, o letramento visual envolve, conforme define Santaella (2012, p.13),
“[...] aprender a ler imagens, desenvolver a observação de seus aspectos e traços constitutivos, detectar o que se produz no interior da própria imagem [...]. Ou seja, significa adquirir os conhecimentos correspondentes e desenvolver a sensibilidade necessária para saber como as imagens se apresentam, como indicam o que querem indicar, qual é o seu contexto de referência, como as imagens significam, como elas pensam, quais os seus modos específicos de representar a realidade”.
No ensino pautado no letramento visual, precisamos desenvolver a capacidade de ler imagens, desmembrá-las em partes, decodificá-las e interpretá-las. Para isso, é preciso tempo e envolvimento, para perceber o sentido, compreender e interpretar o que foi visto.
Pensar o letramento visual na educação de surdos é ofertar propostas que consideram a leitura atribuída aos significados em função dos contextos históricos em que estas foram criadas e circulam. É necessário trabalhar com materiais que oportunizem o ato de ver, com ferramentas que especifiquem o que pode ser visto, como se pode compreender o que é visto, oportunizando a descoberta e a experimentação.
Você sabia?
A disciplina de fotografia é oferecida em vários cursos técnicos e superiores: Comunicação Visual, Design, Publicidade, Moda, dentre outros. No entanto, em sua pesquisa de doutorado na área de Design pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), a professora Janaina Ramos identificou a falta de materiais didáticos para a aprendizagem dos sujeitos surdos na área da fotografia.
Foi então que nasceu o Projeto Libras e Imagens. De acordo com a professora, os estudantes surdos utilizam no cotidiano referências visuais e filosóficas diferentes das dos ouvintes e necessitam de metodologias específicas de ensino.
Uma atividade do Projeto é o “Conte uma história”, que consiste em pensar na fotografia como uma história e então, inventar uma trama, um fato, criar um contexto e mostrar parte da história, e não tudo, através da imagem, permitindo que o observador da imagem complete a cena.