MÓDULO 3: Movimento e ludicidade na educação de surdos (Livro Digital)
1.2.1 Movimentos básicos e desenvolvimento perceptivo-motor
O desenvolvimento infantil obedece a uma sequência organizada de estágios, cada criança progredindo em uma sequência, em um ritmo pessoal e único, segundo sua hereditariedade e suas experiências cotidianas.
De acordo com Whitehead (2019), a sequência de estágios de desenvolvimento é normalmente a mesma para todas as crianças, a despeito da cultura, embora o ritmo dependa de características individuais, de fatores ambientais e de práticas de educação e de criação familiar.
Para o desenvolvimento da competência motora, as primeiras experiências acontecem com movimentos básicos:
- Movimentos de estabilidade – A estabilidade refere-se a qualquer movimento que tenha como objetivo obter e manter o equilíbrio em relação à força de gravidade. Exemplos: pendurar-se, esquivar-se, girar, virar-se, inclinar, balancear, torcer (contorcer), puxar, empurrar, equilibrar-se em um pé só.
- Movimentos de manipulação – A manipulação motora ampla envolve conferir força a, ou receber força de objetos e a manipulação motora fina envolve o uso conjunto dos músculos da mão e do punho. Exemplos: alcançar, pegar, soltar, arremessar, chutar, cabecear, rebater, rolar um objeto, driblar (quicar), prender, recortar, pintar, escrever, digitar, costurar.
- Movimentos de locomoção - Refere-se aos movimentos que envolvem mudanças na localização do corpo relativamente a um ponto fixo na superfície. Exemplos: caminhar, correr, correr lateralmente, pular, rastejar, engatinhar, quadrupedar, subir, descer, galopar, saltar para frente (distância), saltitar com os dois pés, saltitar com um pé só, saltar um obstáculo.
Após compreendermos os movimentos básicos ou, também, padrões motores básicos, podemos entender que, com a combinação das categorias de movimento apresentadas acima: estabilidade, locomoção e manipulação, em suas inúmeras possibilidades, a criança pode realizar movimentos mais complexos. Por exemplo: pular corda envolve locomoção (pulo), manipulação (rodar a corda) e estabilidade (manter o equilíbrio) (Gallahue, Ozmun e Goodway, 2013).
Concomitante à experiência e ao desenvolvimento dos movimentos de estabilidade, locomoção e estabilização, é imprescindível que toda a criança seja estimulada para o desenvolvimento perceptivo, entendendo que as capacidades motoras e perceptivas das crianças afetam-se entre si. Embora se desenvolvam em ritmos diferentes, concebeu-se o termo perceptivo-motor, o qual é unido por um hífen, justamente porque não podemos pensar em atividades perceptivas e em atividades motoras como atividades distintas.
Portanto, quando consideramos o termo perceptivo-motor, sabemos que a primeira parte do termo indica a dependência da atividade de movimento voluntária em relação a alguma forma de informação sensorial. Todos os movimentos voluntários envolvem algum elemento da consciência perceptiva, resultante da estimulação sensorial. A segunda parte do termo indica que o desenvolvimento das habilidades perceptivas é influenciado, em parte, pelo movimento. As habilidades perceptivas são aprendidas e, assim, usam o movimento como um meio importante para que esse aprendizado ocorra. A relação recíproca entre o input sensorial e o output motor permite que tanto as habilidades perceptivas como as motoras, desenvolvam-se em harmonia (Gallahue, Ozmun e Goodway, 2013, p. 52).
Tabela 1 - Fatores associados com os componentes perceptivo-motores
Fonte: adaptado de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 301).
Após apresentarmos as categorias de movimentos básicos e sua inter-relação com os componentes perceptivo-motores, que compõem o processo de desenvolvimento motor ao longo da vida, vamos aprender sobre o conceito de letramento corporal.