Módulo 3: Conceitos matemáticos e metodologias para ensinar crianças surdas (Livro Digital)

2. Conceitos matemáticos e metodologias para ensinar crianças surdas

Como vimos, a BNCC propõe que o aluno seja capaz de encontrar soluções para os problemas, aplicando os conhecimentos matemáticos no seu cotidiano. Para isso, o trabalho com a matemática precisa ir além da memorização de conceitos e fórmulas. Precisa possibilitar ao aluno o desenvolvimento da criatividade, a participação ativa, acesso a ambientes e materiais que permitam questionar, refletir, problematizar e explorar todas as suas potencialidades (Campos; Oliveira, 2020).

O aprendizado da matemática inicia desde cedo, nas brincadeiras, na interação com outras pessoas, em situações familiares cotidianas. As crianças surdas, especialmente aquelas filhas de pais ouvintes, perdem oportunidades de aprender nas situações do dia a dia pela ausência da linguagem.

“[...] Crianças surdas podem ficar fora de discussões relacionadas ao tamanho das roupas, dos sapatos e outros, limitando assim sua exposição a oportunidades de aprendizagem matemática. Também podem não ter acesso à televisão e outras formas de comunicação que poderiam dar-lhes informação relacionada com matemática. Outro ponto importante é a falta de comunicação linguística com seus pais, irmãos e outros membros da família, bem como a sociedade em geral. Situações como comprar algo na padaria e realizar o cálculo para descobrir o troco são comuns entre crianças ouvintes e incomuns entre crianças surdas” (Vargas; Dorneles, 2013, p.414).

A surdez por si só não causa atraso na aprendizagem, mas a ausência de linguagem e de interações sociais pode dificultar o desenvolvimento se não houver uma intervenção adequada (Nogueira; Borges; Frizzarini, 2013). Assim como as crianças ouvintes, as crianças surdas precisam vivenciar situações de aprendizagem que favoreçam a aquisição dos conceitos matemáticos através da interação e da resolução de problemas em atividades cotidianas.  

De acordo com os autores, para a construção do conhecimento matemático, três questões precisam ser consideradas:

 1) a utilização da língua de sinais;

 2) metodologias de ensino que favoreçam experiências significativas;

 3) ambientes, recursos e situações de aprendizagem que auxiliem o aluno a utilizar a matemática em diferentes contextos.

 

Com relação às metodologias de ensino, Campos e Oliveira (2020, p.10) sugerem:

1) metodologias que explorem o aspecto visual;

2) metodologias que despertem o interesse do aluno;

3) metodologias que situem o aluno como protagonista de seu aprendizado.

Essas metodologias, além de favorecerem a aprendizagem das crianças surdas, também são importantes para o aprendizado das crianças ouvintes.

As metodologias visuais podem ser trabalhadas através da utilização de materiais concretos, recursos tecnológicos e jogos que favoreçam a apropriação dos conceitos matemáticos.  

A resolução de problemas, investigação de situações matemáticas, questões do cotidiano podem estimular o interesse do aluno, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e promovendo uma aprendizagem mais contextualizada.

Atividades nas quais os alunos participem de forma ativa, sendo responsáveis em pensar soluções e possibilidades de resolução para as questões apresentadas favorecem a elaboração do raciocínio lógico-matemático.