Livro Didático 2 - Material didático para EaD
Site: | 2024/2 |
Course: | 2018.1B - Planejamento e Desenvolvimento de Cursos na Modalidade a Distância |
Book: | Livro Didático 2 - Material didático para EaD |
Printed by: | Guest user |
Date: | Friday, 22 November 2024, 9:13 AM |
1. Introdução
Na Educação a Distância, o material didático constitui-se em elemento mediador entre o aluno e o conteúdo a ser aprendido e traz em sua essência a concepção pedagógica que norteia o ensino e aprendizagem do curso. Para saber mais sobre a produção de materiais didáticos para a educação a distância, é interessante que você conheça o que dizem os estudiosos da EaD.
Moran (2003) declara que a maior dificuldade dos professores na elaboração de um material didático interativo é compreender que não se trata de redigir capítulos de livros ou artigos científicos.
Para Corrêa (2007, p. 11)
o grande desafio é gerar materiais que criem desafios cognitivos para os alunos, que promovam atividades significativas de aprendizagem, enfim, que promovam o desenvolvimento de novas competências necessárias ao campo da ação. Portanto, a qualidade do material refere-se aos conteúdos, às atividades, e não depende unicamente do suporte tecnológico a ser utilizado. Além disso, é necessário que se avaliem os diferentes materiais desenvolvidos de acordo com uma metodologia própria para cada tipo de mídia, assim como a articulação dos materiais entre si de modo a garantir uma real efetividade do fluxo de aprendizagem proposto.
Barbosa (2005, p. 8) ressalta a função mediadora do material didático ao declarar:
É comum que no contexto de um sistema de Educação a Distância o material didático seja um dos aspectos mais discutidos e que exigem mais ações de planejamento das equipes pedagógicas (gestores, professores-conteudistas, pedagogos, desenhista instrucional, entre outros) e de produção (produtores gráficos e infográficos, produtores de vídeo, animações e simulações, programadores, revisores ortográficos, entre outros). Isso não acontece por acaso, pois em se tratando de EaD, material didático assume o papel de mediador principal, senão o único, das interações dos alunos com os conteúdos.
Desta forma, o grande desafio colocado é gerar materiais que desafiem cognitivamente os alunos. O professor, ao elaborar o material didático, deve dispor de recursos e procedimentos didáticos e linguísticos que atendam os alunos com os mais diversos tipos de inteligências, habilidades, experiências, níveis de motivação e independência, possibilitando estabelecer um forte elo com o conteúdo e alcançando com sucesso a aprendizagem.
Quando se trata da produção de materiais didáticos para a educação a distância, os professores se deparam com muitas dúvidas, questionando, por exemplo:
- Como deve ser desenvolvido o conteúdo para a EAD?
- Quais objetivos de ensino devem ser alcançados?
- Como abordar conteúdos científicos de forma dialógica?
- Quais recursos didáticos podem ser utilizados para viabilizar a construção do conhecimento pelo aluno?
- Como realizar a mediação pedagógica por meio dos materiais didáticos?
2. Características dos materiais didáticos
Os Materiais Educacionais Digitais para a Educação a Distância apresentam algumas características que devemos buscar produzir ao optar por esta modalidade.
Para realização de um processo de interação entre o aluno e o professor, é necessário que o material didático:
- apresente links entre as unidades e para outros materiais externos às unidades, evidenciando o sequenciamento e a coesão existente entre os conteúdos;
- propicie fácil navegação e identificação das relações entre as partes;
- promova a integração entre as unidades do material;
- recapitule as ideias principais, especificamente ao final de cada unidade;
- motive o aluno a estudar a próxima unidade apresentando a ideia principal que será tratada;
- apresente atividades que possibilitem um estudo mais atrativo e estimulante;
- possibilite que o aluno possa relacionar o conteúdo produzido no material didático com seu cotidiano, com acontecimentos da atualidade, como os veiculados nos meios de comunicação, por exemplo;
- disponibilize uma produção textual repleta de pistas textuais e contextuais, que privilegie o aspecto dialógico e também expresse a preocupação com os aspectos cognitivos que possibilitam uma melhor inferência do aluno;
- apresente fatos reais, possíveis de o profissional se deparar em seu campo de trabalho e que sejam representativos para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias ao processo de formação;
- permita, por meio de indagações, que o aluno possa utilizar de seus conhecimentos prévios;
- apresente o assunto utilizando gêneros textuais diversificados;
- sugira leituras complementares;
- contenha atividades de estudos, trabalhando o conteúdo em diferentes níveis de complexidade e explore a competência de interpretação.
O desafio na EAD é produzir materiais didáticos que correspondam às possibilidades e necessidades cognitivas dos alunos, disponibilizando recursos didáticos que promovam a aprendizagem no contexto da sociedade contemporânea. É fundamental, assim, que o professor estabeleça, no próprio texto, uma relação de informalidade e cordialidade, que estimule e favoreça o processo coletivo de construção do ensino, busque personalizar os estudos a partir de casos, relatos de experiências e exemplos contextualizados em termos geográficos, os quais, somando-se ao conhecimento científico clássico, favorecerão a realização da interação e aprendizagem colaborativa necessária na EAD.
Neste Tópico, apresentamos textos complementares que contribuem para a compreensão das características que compõem os Materiais Educacionais Digitais.
3. A linguagem dialógica dos materiais para EaD
Na construção do material didático para a Educação a Distância, o professor deve levar em consideração os aspectos didáticos e dialógicos, devendo necessariamente estabelecer um forte diálogo com o leitor (aluno). Por isso, considera-se que a linguagem utilizada nos materiais didáticos seja apresentada como componente fundamental no processo de mediação dos percursos de aprendizagem dos acadêmicos.
Segundo Cabral e Cavalcante (2010) é importante salientar que há sempre a máquina intermediando a comunicação entre os sujeitos do processo ensino e aprendizagem na modalidade a distância. Tal peculiaridade determina um certo distanciamento entre aluno e professor, e portanto, a necessidade de atenuação dessa distância encontra na linguagem verbal de forma dialógica uma estratégia significativa para a interação que certamente possibilita na aprendizagem.
O texto deve estar permeado por interações. É importante que o professor insira no material fatos reais, situações vivenciais possíveis de o profissional se deparar em seu campo de trabalho, possibilitando o desenvolvimento de habilidades e competências que o aluno necessitará para o desempenho de sua atividade profissional.
Cabral e Cavalcante (2010) apresentam algumas orientações para garantir a eficácia de texto a ser utilizado em materiais para cursos na modalidade a distância:
- ser claro, mas não distante;
- ser concisos, mas sem omitir informações;
- ser polidos e gentis;
- utilizar a linguagem como instrumento de atenuação da distância imposta pela máquina.
Também é importante considerar que, a partir de uma linguagem dialógica, o professor deve personalizar o seu material por meio de estudos de casos, situações-problemas, relatos de experiências e exemplos contextualizados, os quais, relacionados ao conhecimento científico, possibilitarão a aprendizagem.
Dessa forma, o material a ser produzido, seja ele audiovisual ou impresso, deve facilitar a interação com os alunos, caracterizando-se por uma comunicação bidirecional, pois é preciso considerar que o estudante EaD é um sujeito autônomo e, por isso, precisa adquirir competência para construir significados para seu aprendizado.
Nessa perspectiva, Rondelli (2007, p. 1), quando se refere à linguagem utilizada no material didático, afirma que ela deve ser mais dialógica, isto é, o “material precisa 'conversar' com o aluno, independente de ser impresso ou estar disponível na internet. Desenvolver esta comunicação é uma arte que se aprende com o tempo e com muita atenção aos estudos das ciências da linguagem”.
A contextualização constitui outro recurso pedagógico que permite que o aluno se aproprie do conceito e que o perceba em várias situações contextuais. Assim, ao elaborar o material didático, o professor deve buscar na realidade dos alunos a base para contextualizar os conceitos científicos. Dessa forma, a aprendizagem torna-se significativa, desperta maior interesse e proporciona uma verdadeira construção de conceitos, não sendo, portanto, mera memorização de conteúdo sem significados.
No momento de elaboração do material didático, o professor deve considerar que a qualidade pedagógica não se restringe à forma, ao conteúdo e à consecução dos objetivos, mas, fundamentalmente, à garantia de que esses materiais devidamente contextualizados sejam compreensíveis, interativos e que possibilitem a autonomia de estudos aos alunos.
Diante da necessidade da educação a distância estabelecer um estreito processo comunicacional interativo, permitindo a compreensão dos conteúdos, é necessário que professor se preocupe também com a coerência interna do material.
4. Objetos de aprendizagem e EaD
Quando tratamos de Materiais Educacionais Digitais, os Objetos de Aprendizagem abrem caminhos na educação a distância para uma nova metodologia de ensino e aprendizagem baseada no uso do computador e da Internet. Os objetos de aprendizagem podem trazer inovações e soluções no processo pedagógico que beneficiam de diferentes maneiras a todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, em especial aos alunos.
Para Bettio e Martins (2002, p. 4), os objetos de aprendizagem constituem “qualquer espécie de entidade digital a qual tenha a capacidade de exprimir algum conhecimento”. Já para Tarouco, Fabre e Tamusiunas (2003, p. 2), “os objetos de aprendizagem são definidos como qualquer recurso, suplementar ao processo de aprendizagem, que pode ser reusado para apoiar a aprendizagem”. Por sua vez, Sá Filho e Machado (2003, p. 3), os definem como "recursos digitais, os quais podem ser usados, reutilizados e combinados com outros objetos para formar um ambiente de aprendizado rico e flexível”. Ainda sobre isso, Macêdo (2007, p. 20) declara:
Os estudos sobre OA são recentes, de forma que não há um consenso universalmente aceito sobre sua definição. Os OA podem ser criados em qualquer mídia ou formato, podendo ser simples como uma animação ou uma apresentação de slides ou complexos como uma simulação.
No contexto educacional brasileiro, a produção de materiais educacionais digitais na forma de objetos de aprendizagem (OA) constitui uma possibilidade para o professor trabalhar conceitos e conteúdos de forma mais dinâmica e interativa.
Para refletir sobre essa nova possibilidade e descobrir como eles são significativos na organização do processo de ensino e aprendizagem, vamos conhecer a sua utilização nos cursos ofertados na modalidade a distância. Brião (2009, p. 15) declara que
os objetos de aprendizagem, que se utilizam das potencialidades interativas (conceitos, lógicas e formatos) de multimídia e hipermídia, surgem como uma opção de comunicação didática entre professor-estudante e estudante-estudante; são recursos educacionais digitais; representam entidades digitais que promovem a organização e a abordagem de um conteúdo educacional; são estruturados de modo a serem reutilizados em diferentes momentos e/ou contextos de aprendizagem.
Nesse sentido, podemos afirmar que o objeto de aprendizagem é um recurso educacional digital que pode ser utilizado como elemento de mediação entre o estudante e o conteúdo que deverá ser ministrado na unidade curricular, pois aborda conceitos relacionados a uma ciência, propõe atividades interativas e, assim, possibilita a construção colaborativa do conhecimento entre os partícipes do curso. Dessa forma, podemos pensar que a utilização de objetos de aprendizagem abre possibilidades de o professor enriquecer e diversificar a sua prática pedagógica, agregando valor à qualidade do processo de ensino e aprendizagem.
Para um recurso ser conceituado como um objeto de aprendizagem, é necessário que o professor o desenvolva com objetivos pedagógicos, pois representa um recurso educacional. Nesse sentido, Dall'asta (2004) enfatiza que os objetos de aprendizagem não devem, simplesmente, transmitir conteúdos, mas serem planejados para possibilitar ao aluno o desenvolvimento da capacidade de pensar e construir o seu conhecimento, formulando suas hipóteses, desenvolvendo assim a sua autonomia intelectual.
Os objetos de aprendizagem podem ser desenvolvidos na forma de simulações, animações, tutoriais, textos, apresentações, clipes de áudio e/ou vídeo, fotografias, mapas conceituais, infográficos, ilustrações, diagramas, gráficos, mapas interativos, páginas web etc. Podem também podem ser constituídos de elementos textuais, visuais e sonoros. Estes chamam a atenção dos estudantes e lhes possibilitam, por meio da interação com tais elementos, construírem conhecimentos importantes para a sua vida pessoal e profissional.
Há vários repositórios gratuitos de objetos de aprendizagem que podem ser utilizados pelos professores. No entanto, pensar o docente como produtor de “objetos de aprendizagem é pensar também na riqueza de possibilidades que esses recursos educacionais digitais podem apresentar em termos pedagógicos, indo muito além de uma atividade realizada no computador” (BRIÃO, 2009, p. 17).
5. Atividades de aprendizagem
No material didático, o professor também produz atividades para viabilizar o processo de ensino e aprendizagem, permitindo ao aluno estabelecer a relação entre os fundamentos teóricos e sua futura prática profissional. De acordo com os Referenciais para Elaboração de Material Didático para EAD no Ensino Profissional e Tecnológico,
as atividades devem guardar relação formal, quer com os objetivos de aprendizagem propostos, quer com os núcleos conceituais oferecidos, de forma que cada unidade didática garanta a integridade instrucional que favoreça a autonomia do aluno no processo educacional (SEED, 2007, p. 09).
Nesse sentido, o professor também deve utilizar procedimentos didáticos para produzir as atividades de ensino, que podem ser utilizadas para qualificar o processo de interação e aprendizagem colaborativa dos alunos. Dessa forma, o material didático deve conter atividades de estudos que trabalhem o conteúdo em diferentes níveis de complexidade de forma contextualizada, preferencialmente utilizando estudos de casos. Assim, desenvolve e explora diversas habilidades e competências dos alunos.
Segundo Corrêa (2008, p. 32), “as atividades são necessárias ao longo do texto, e cada uma delas deve responder a um determinado propósito que contribua para a aprendizagem do aluno”.
Percebemos que, por meio das atividades de ensino e situações didáticas devidamente planejadas, o papel desempenhado pelo professor na modalidade a distância de fato contribui para a construção do conhecimento dos alunos. Nesse sentido, pode-se afirmar que esse profissional, apesar da distância geográfica que o separa dos alunos, por meio de procedimentos e recursos didáticos devidamente planejados, estabelece uma relação comunicacional e colaborativa, gerando possibilidades de (re)significar o processo de ensinar e de aprender na educação a distância.
6. Referências
BARBOSA, I. B. Metodologia para produção de material impresso para EaD. Curso: Formação de Professores para Educação a Distância, abril de 2005. Disponível em: <http://www.ead.ufsc.br/ambiente/mod/resource/view.php?id=132>. Acesso em: 15 set. 2015.
BETTIO, Raphael Winckler de; MARTINS, Alejandro. Objetos de aprendizado: um novo modelo direcionado ao ensino a distância. [2002]. Disponível em: <www.abed.org.br/congresso2002/trabalhos/texto42.htm>. Acesso em: 4 maio 2018.
BRIÃO, Adriana Horst. Desafios do professor como autor de objetos de aprendizagem. 2009. Dissertação (Mestrado) de Mestrado - Faculdade de Educação da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, 2009.
CABRAL, A. T.; CAVALCANTE, A. F. Linguagem escrita. In: CARLINI, A. L.; TARCIA, R. M. L. (Org.). 20% a distância e agora? São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. p. 53-80.
CORRÊA, Juliane (Org.). Educação a Distância: orientações metodológicas. São Paulo: Artmed, 2007.
DALL’ASTA, Rosana Janete. A transposição didática no software educacional. Passo Fundo: UPF, 2004.
MACÊDO, Laércio Nobre de et al. Desenvolvendo o pensamento proporcional com o uso de um objeto de aprendizagem. In: PRATA, Carmem Lúcia; NASCIMENTO, Anna Christina Aun de Azevedo (Org.). Objetos de aprendizagem: uma proposta de recurso pedagógico. Brasília, DF: MEC, SEED, 2007. p. 17–26.
MORAN, José. Educação On-line. São Paulo: Loyola, 2003.
RONDELLI, Elizabeth. Material didático: interatividade é fundamental. Postado em Janeiro de 2007. Disponível em: <http://www.ead.sp.senac.br/newsletter/novembro06/mercado/mercado.htm>. Acesso em: 01 out. 2015.
SÁ FILHO, Clóvis Soares; MACHADO, Elian de Castro. O computador como agente transformador da educação e o papel do objeto de aprendizagem. Disponível em: <www.abed.org.br/seminario2003/texto11.doc>. Acesso em: 4 maio 2018.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEED). Referenciais de qualidade para educação superior a distância. 2002. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1.pdf>. Acesso: 4 maio 2018.
TAROUCO, Liane Margarida Rockenback; FABRE, Marie-Christine Julie Mascarenhas; TAMUSIUNAS, Fabrício Raupp. Reusabilidade de objetos educacionais. Novas Tecnologias na Educação, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 1-11, fev. 2003. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/renote/article/view/13628/7697>. Acesso em: 4 maio 2018.
7. Ficha técnica
Este material foi elaborado pelos professores e pela equipe de materiais didáticos do Cerfead.
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