Livro texto

Site: Moodle IFSC
Curso: 2023.2 - INTERFACES E EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO - Turma 01
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Impresso por: Usuário visitante
Data: Wednesday, 3 Jul 2024, 04:28

1. Introdução

A acessibilidade é um tópico que transcende as barreiras da tecnologia para tocar aspectos fundamentais dos direitos humanos, inclusão social e igualdade. Em um mundo em que as interações digitais tornaram-se uma parte inseparável da vida cotidiana, a importância de projetar interfaces de usuário que são acessíveis a todos nunca foi tão crucial. É dentro deste contexto que a disciplina de Interação Humano-Computador (IHC) assume uma responsabilidade especial. IHC não se trata apenas de desenvolver tecnologias eficientes e eficazes; trata-se de criar sistemas que são inclusivos, éticos e justos.

A abordagem tradicional de design frequentemente se concentra em atender às necessidades do "usuário médio". No entanto, essa abordagem ignora uma parcela significativa da população que tem necessidades únicas decorrentes de diversas formas de deficiência. Além disso, o design acessível não beneficia apenas aqueles com deficiências permanentes. Ele também ajuda usuários que enfrentam barreiras temporárias, como uma lesão, ou situacionais, como operar um dispositivo sob luz solar intensa.

Nesta seção, vamos explorar o conceito de acessibilidade em profundidade, focando em sua definição, sua relevância e as diversas facetas que compõem esse tópico vital em IHC. Vamos abordar a legislação que molda as práticas de acessibilidade, os diferentes tipos de deficiências que devem ser consideradas no design de interfaces, os princípios e diretrizes que orientam a acessibilidade, as ferramentas para avaliação e as melhores práticas em diferentes plataformas, como web e dispositivos móveis.

Ao fornecer uma visão geral abrangente e interconectada da acessibilidade em IHC, este conteúdo visa equipar designers, desenvolvedores e outros profissionais da área com o conhecimento necessário para criar produtos digitais mais inclusivos e acessíveis. A intenção é que, ao final desta leitura, você não apenas compreenda o que constitui acessibilidade, mas também por que ela é indispensável em qualquer discussão sobre tecnologia centrada no ser humano.


2. O que é acessibilidade?

Acessibilidade, em seu sentido mais amplo, refere-se à capacidade de uma interface ou sistema ser facilmente utilizado por um amplo espectro de pessoas, incluindo aquelas que têm algum tipo de deficiência. Não é apenas uma questão de "poder usar", mas também de "usar com eficácia". Em outras palavras, uma interface acessível permite que todos os usuários, independentemente de suas habilidades ou limitações, possam não apenas acessar informações e funcionalidades, mas também interagir, contribuir e participar plenamente da atividade proposta.

A acessibilidade não é apenas uma questão técnica; ela tem um impacto direto na qualidade de vida e na inclusão social. Quando sistemas são inacessíveis, certos grupos são efetivamente excluídos de participar plenamente na sociedade digital. Isso pode ter implicações em diversas áreas, desde educação e emprego até acesso a serviços públicos e saúde. Portanto, é crucial reconhecer a acessibilidade como um direito humano fundamental, além de uma boa prática em design e desenvolvimento.

Em Interação Humano-Computador (IHC), a acessibilidade assume uma posição particularmente destacada. IHC é a disciplina focada na concepção e implementação de sistemas interativos que são úteis, utilizáveis e satisfatórios para o usuário. Se um sistema falha em ser acessível, ele também falha em ser útil e utilizável para uma grande parcela da população. Isso não apenas limita o alcance e a eficácia do sistema, mas também pode ter implicações comerciais, legais e éticas.

É importante notar que o design acessível beneficia uma gama mais ampla de usuários do que apenas aqueles com deficiências. Por exemplo, as legendas em um vídeo não apenas auxiliam pessoas com deficiência auditiva, mas também são úteis para quem está em um ambiente barulhento. Da mesma forma, um website com bom contraste de cores será mais fácil de ler para todos, não apenas para pessoas com deficiência visual.

Considere um website de comércio eletrônico que emprega técnicas de acessibilidade, como navegação por teclado e texto alternativo para imagens. Não apenas usuários com deficiência visual poderão fazer compras online, como o site também será mais amigável para usuários idosos que podem ter dificuldades em usar um mouse. Outro exemplo poderia ser um aplicativo de transporte público que utiliza ícones grandes e fala as direções em voz alta, beneficiando tanto pessoas com deficiências visuais quanto aqueles que estão simplesmente distraídos ou apressados.

Projetar para acessibilidade é projetar para a humanidade.


3. Legislação

Uma das maneiras mais eficazes de garantir a implementação de práticas de acessibilidade é através da legislação. Leis e regulamentos não apenas estabelecem um padrão mínimo de acessibilidade, mas também fornecem um mecanismo para a aplicação desses padrões. Isso é crucial porque, mesmo com a melhor das intenções, a falta de requisitos legais pode levar à negligência no design e desenvolvimento acessíveis.

A legislação sobre acessibilidade varia consideravelmente de um país para outro, mas algumas diretrizes têm alcance internacional. Por exemplo, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU é um tratado internacional que enfatiza o acesso à informação e às tecnologias de comunicação. Muitos países signatários implementaram leis nacionais para cumprir as obrigações desta convenção.

Nos Estados Unidos, a Section 508 do Rehabilitation Act exige que todas as agências federais tornem sua tecnologia acessível a pessoas com deficiência. Essa legislação não se aplica apenas a websites, mas também a software e hardware. A Americans with Disabilities Act (ADA) também tem implicações para acessibilidade digital, embora sua linguagem seja menos específica.

Na União Europeia, a Diretiva de Acessibilidade na Web e em Aplicativos Móveis exige que websites e aplicativos móveis de órgãos do setor público sejam acessíveis. Cada estado-membro é responsável pela implementação desta diretiva em sua legislação nacional.

No Brasil, o Decreto 5.296/2004 e o Marco Civil da Internet estabelecem que é necessário garantir a acessibilidade nos sites da administração pública e em portais e sites de empresas concessionárias de serviços públicos. Além disso, o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) também tem recomendações sobre acessibilidade em seu conjunto de boas práticas para a Internet no Brasil.

O não cumprimento dessas leis e regulamentos pode resultar em uma série de penalidades, que variam desde multas até ações judiciais. Além das implicações legais, a falta de acessibilidade pode também afetar a reputação de uma organização, reduzindo sua base de clientes e diminuindo a confiança do usuário.

4. Deficiências

Compreender as diferentes formas de deficiência e suas prevalências é fundamental para o desenvolvimento de interfaces acessíveis. Neste capítulo, examinaremos os principais tipos de deficiências que afetam a interação com sistemas computacionais e discutiremos estatísticas relevantes que destacam a importância da acessibilidade.

Deficiências visuais incluem uma gama de condições, desde a cegueira total até várias formas de visão reduzida. Algumas deficiências visuais, como o daltonismo, afetam a percepção de cores e podem dificultar a interpretação de interfaces que dependem fortemente de cores para transmitir informações.

A deficiência auditiva varia de dificuldades leves a perda auditiva profunda ou total. Isso pode afetar a capacidade de um usuário de receber informações através de canais auditivos, como vídeos sem legendas ou aplicações que fornecem feedback apenas através de sons.

Deficiências motoras podem afetar a capacidade de um usuário de interagir fisicamente com uma interface, como usar um mouse ou teclado. Condições como paralisia cerebral, lesões na medula espinhal ou tremores podem ter implicações significativas na forma como um usuário interage com sistemas digitais.

As deficiências cognitivas, como o Transtorno do Espectro Autista, TDAH ou demência, podem afetar a memória, a atenção e a capacidade de um usuário de processar e compreender informações.

Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 15% da população mundial vive com algum tipo de deficiência. Isso equivale a cerca de 1 bilhão de pessoas. Por exemplo, estima-se que 285 milhões de pessoas em todo o mundo tenham alguma forma de deficiência visual, enquanto 360 milhões têm alguma forma de perda auditiva. Essas estatísticas sublinham a importância vital da acessibilidade em design e desenvolvimento.

Exemplos de adaptações

Para usuários com deficiência visual, técnicas como descrições textuais de imagens (conhecidas como texto alternativo) e cabeçalhos estruturados podem facilitar a navegação em um site por meio de leitores de tela.

Para aqueles com deficiência auditiva, a transcrição ou legendagem de conteúdo em áudio e vídeo é crucial. Isto não só permite que esses usuários acessem a informação, mas também beneficia outros usuários em ambientes onde o áudio não pode ser utilizado.

5. Princípios de acessibilidade

O campo da acessibilidade digital possui várias diretrizes e princípios estabelecidos para guiar desenvolvedores, designers e outros profissionais na criação de produtos acessíveis. Entre os mais conhecidos estão o PARE (Princípios de Acessibilidade em Recursos Educacionais) e o WCAG (Web Content Accessibility Guidelines). Este capítulo irá explorar esses princípios em detalhes, fornecendo insights sobre como eles podem ser aplicados na prática.

PARE - Princípios de Acessibilidade em Recursos Educacionais

O PARE foca especificamente em tornar os recursos educacionais acessíveis. Seu objetivo é assegurar que todos os estudantes, independentemente de suas capacidades, tenham igualdade de acesso ao conteúdo educacional.

Perceivable (Perceptível)

Este princípio destaca a importância de tornar a informação facilmente perceptível para todos. Isso pode incluir o uso de texto alternativo para imagens, legendas para vídeos e uma hierarquia visual clara para o conteúdo do site.

Accessible (Acessível)

Isso diz respeito à facilidade de interação com o conteúdo. Isso pode incluir navegação simplificada, o uso de teclas de atalho e a capacidade de usar leitores de tela ou outras tecnologias assistivas.

Reusable (Reutilizável)

Este princípio foca em criar conteúdo que pode ser facilmente adaptado ou reutilizado em diferentes contextos. Isso ajuda não apenas em termos de acessibilidade, mas também em tornar o conteúdo mais sustentável e eficiente.

Editable (Editável)

Para ser verdadeiramente acessível, o conteúdo deve ser editável para se adaptar às necessidades específicas do usuário. Isso pode incluir coisas como fontes redimensionáveis, modos de contraste elevado e outras formas de personalização.

WCAG - Web Content Accessibility Guidelines

O WCAG é talvez o conjunto de diretrizes de acessibilidade mais amplamente reconhecido e utilizado. Ele é composto por três níveis de conformidade (A, AA, AAA) e se baseia em quatro princípios fundamentais: percebível, operável, compreensível e robusto.

Perceivable (Perceptível)

Assim como no PARE, a ideia é tornar todas as informações e componentes da interface facilmente perceptíveis para o usuário, independentemente de suas capacidades.

Operable (Operável)

Os componentes da interface e a navegação devem ser operáveis, o que significa que os usuários devem ser capazes de interagir com todos os elementos da interface de maneira eficaz.

Understandable (Compreensível)

A informação e a operação da interface devem ser claras e intuitivas. Isso pode envolver coisas como linguagem simples, feedback de ações e consistência na disposição dos elementos.

Robust (Robusto)

Para ser verdadeiramente acessível, o conteúdo deve ser suficientemente robusto para ser interpretado de forma confiável por uma ampla variedade de agentes de usuário, incluindo tecnologias assistivas.


Os princípios de acessibilidade como PARE e WCAG fornecem um quadro estruturado que pode guiar os esforços de acessibilidade em diferentes contextos. Eles estabelecem diretrizes claras e mensuráveis que ajudam a manter um foco na experiência do usuário, garantindo que as interfaces sejam acessíveis para o maior número possível de pessoas. Por serem amplamente adotados, esses princípios também oferecem uma forma de padronizar práticas de acessibilidade, tornando mais fácil para os desenvolvedores e designers alinhar seus esforços com as melhores práticas estabelecidas no campo da Interação Humano-Computador.

6. Avaliação de acessibilidade

Depois de entender os princípios e diretrizes de acessibilidade, o próximo passo é a avaliação. É vital assegurar que os produtos e serviços criados estão, de fato, acessíveis para todos os usuários. Existem diversas ferramentas e metodologias para avaliar a acessibilidade de uma interface, algumas das quais são JAWS, NVDA e Lighthouse. Neste capítulo, exploraremos essas ferramentas em detalhes e discutiremos como elas podem ser aplicadas para garantir a acessibilidade.

JAWS (Job Access With Speech)

JAWS é um dos leitores de tela mais conhecidos e amplamente utilizados. Ele é projetado para ajudar pessoas com deficiências visuais a interagir com o sistema operacional e aplicações.

JAWS oferece funcionalidades como leitura de texto, descrição de elementos gráficos e a possibilidade de navegar através de atalhos de teclado. Ele também permite que os desenvolvedores testem a acessibilidade do conteúdo, garantindo que os elementos na tela possam ser lidos e interpretados corretamente.

Um exemplo prático seria testar um site educacional para garantir que todos os botões, links e textos sejam não apenas visíveis, mas também "ouvidos" e "entendidos" por um leitor de tela como o JAWS.

NVDA (NonVisual Desktop Access)

NVDA é um leitor de tela gratuito e de código aberto que oferece funcionalidades semelhantes às do JAWS. Um dos pontos fortes do NVDA é sua comunidade ativa, que contribui constantemente para o seu desenvolvimento. Isso permite uma rápida atualização e inclusão de novas funcionalidades, tornando-o uma ferramenta flexível para avaliação de acessibilidade.

Lighthouse

Lighthouse é uma ferramenta automatizada para melhorar a qualidade de páginas web, e ela inclui recursos específicos para testar a acessibilidade. Fornece uma pontuação de acessibilidade e sugestões para melhorias, abrangendo vários aspectos, como semântica de elementos HTML, contraste de cor e acessibilidade de formulários.

Por exemplo, ao desenvolver um aplicativo web para ensino à distância, usar o Lighthouse pode rapidamente identificar falhas de acessibilidade que podem não ser aparentes durante o desenvolvimento normal, como a falta de rótulos adequados em campos de formulário.

7. Acessibilidade na web

A acessibilidade na web é uma das áreas mais críticas quando falamos de Interação Humano-Computador (IHC). A internet tornou-se uma parte indispensável da vida moderna, servindo como um portal para uma ampla gama de informações, serviços e interações sociais. Tornar a web acessível é, portanto, fundamental para garantir que todos possam participar plenamente da sociedade digital. Este capítulo abordará vários aspectos que devem ser considerados para garantir a acessibilidade na web.

HTML semântico

A acessibilidade na web começa com o uso de HTML semântico. Este é o uso de etiquetas HTML de forma que descrevam adequadamente o conteúdo e a estrutura da página. Por exemplo, o uso de cabeçalhos (<h1>, <h2>, etc.) em ordem hierárquica torna o conteúdo mais navegável para leitores de tela. Outro exemplo seria o uso de <nav> para identificar áreas de navegação, tornando mais fácil para as tecnologias assistivas entenderem a estrutura da página.

ARIA (Accessible Rich Internet Applications)

O ARIA é um conjunto de atributos especiais que tornam os elementos da web mais acessíveis. Com o ARIA, você pode tornar os elementos da interface mais descritivos para tecnologias assistivas. Um exemplo comum é o uso do atributo aria-label em botões que podem não ter texto visível mas desempenham uma função crucial no layout, como um botão de fechar em um modal.

Contraste e Cores

Garantir um contraste de cor adequado é crucial para a acessibilidade. Isso ajuda usuários com baixa visão ou daltonismo a interpretar o conteúdo corretamente. Por exemplo, texto preto sobre um fundo branco geralmente fornece um bom contraste, mas se o fundo for cinza claro, o texto também deve ser ajustado para garantir uma legibilidade adequada.

Formulários e Entrada de Dados

Os formulários são frequentemente um dos aspectos mais negligenciados da acessibilidade web. Cada campo deve ser adequadamente rotulado, e as mensagens de erro devem ser claras e instrutivas. Ao criar um formulário de inscrição, o uso de etiquetas (<label>) associadas a campos de entrada (<input>) pode tornar o formulário mais acessível para leitores de tela.


A acessibilidade na web deve ser uma consideração integral e contínua durante todo o ciclo de vida de um projeto. Com os métodos e técnicas adequados, é possível criar uma experiência web que seja não apenas funcional e esteticamente agradável, mas também inclusiva para todos os usuários, independentemente de suas habilidades físicas ou cognitivas.

8. Acessibilidade em dispositivos móveis

À medida que os dispositivos móveis continuam a dominar o cenário tecnológico, a necessidade de garantir a acessibilidade nesses aparelhos torna-se cada vez mais crucial. Ao contrário dos computadores de mesa, que têm um conjunto mais estável de interfaces e recursos, os dispositivos móveis apresentam uma gama diversificada de tamanhos de tela, métodos de entrada e sistemas operacionais. Este capítulo explorará as várias considerações e práticas recomendadas para garantir a acessibilidade em dispositivos móveis.

Design Responsivo

Um dos primeiros passos para garantir a acessibilidade em dispositivos móveis é adotar um design responsivo. Isso significa que o layout e o conteúdo devem se adaptar automaticamente a diferentes tamanhos de tela. Uma técnica comum é o uso de grades fluidas e imagens adaptativas para garantir que o conteúdo seja redimensionado e reorganizado de forma adequada em diferentes dispositivos.

Interfaces Touch

As interfaces touch são comuns em dispositivos móveis, e elas apresentam desafios únicos para a acessibilidade. É crucial garantir que elementos interativos sejam suficientemente grandes e espaçados para facilitar a interação. Botões e links devem ter uma área de toque suficientemente grande para que possam ser facilmente acessados por pessoas com limitações motoras ou por quem usa tecnologias assistivas.

Reconhecimento de Voz e Assistentes Virtuais

A tecnologia de reconhecimento de voz em dispositivos móveis, como Siri e Google Assistant, oferece uma forma alternativa de interação que pode ser particularmente útil para pessoas com deficiências. Uma pessoa com mobilidade reduzida pode usar um assistente virtual para enviar mensagens de texto, realizar chamadas ou até mesmo navegar pela web, tudo por meio de comandos de voz.

Acessibilidade Nativa e Diretrizes de SO

Os sistemas operacionais de dispositivos móveis, como Android e iOS, oferecem uma série de funcionalidades de acessibilidade nativas que os desenvolvedores podem aproveitar. O iOS oferece o VoiceOver, um leitor de tela nativo, enquanto o Android tem o TalkBack. Utilizar essas funcionalidades em um aplicativo móvel pode significativamente aumentar sua acessibilidade.

Teste de Acessibilidade em Dispositivos Móveis

O teste é uma etapa crítica para assegurar que um aplicativo móvel seja acessível. Diversas ferramentas e emuladores podem simular várias deficiências, como visão reduzida, para ajudar os desenvolvedores a identificar áreas de melhoria. O uso de emuladores de tela tátil pode ajudar a entender como um aplicativo é acessível para pessoas com deficiências motoras, permitindo ajustes no design ou na interatividade conforme necessário.


A acessibilidade em dispositivos móveis é uma área em constante evolução que requer atenção meticulosa aos detalhes e uma compreensão profunda das várias formas como os usuários interagem com seus dispositivos. Ao adotar práticas recomendadas e ao estar ciente das funcionalidades nativas oferecidas pelos sistemas operacionais, é possível criar aplicativos móveis que não apenas atendem a um amplo espectro de necessidades dos usuários, mas também enriquecem suas vidas de maneira significativa. A acessibilidade deve ser uma consideração integrada no processo de design e desenvolvimento, garantindo que os dispositivos móveis sejam verdadeiramente inclusivos.


9. Conclusões

A acessibilidade na Interação Humano-Computador (IHC) não é apenas uma consideração técnica ou legal, mas sim uma questão ética e social de grande importância. À medida que a tecnologia se torna cada vez mais intrínseca às nossas vidas diárias, a necessidade de torná-la acessível a todos os usuários, independentemente de suas habilidades físicas ou cognitivas, se torna uma prioridade indiscutível. Abordar questões de acessibilidade em todas as facetas da IHC — da web a dispositivos móveis, passando por princípios direcionadores e métodos de avaliação — é um imperativo que vai além do cumprimento de regulamentações. É uma responsabilidade social que recai sobre designers, desenvolvedores, pesquisadores e educadores na área.

Este imperativo se estende não apenas para garantir que as interfaces sejam utilizáveis, mas também para que sejam inclusivas. A acessibilidade é sobre permitir a participação plena de todos os usuários, garantindo que cada indivíduo possa interagir com a tecnologia de uma forma que atenda às suas necessidades específicas. Isto é especialmente crítico em contextos como a educação, o trabalho, o acesso a serviços de saúde e a participação em atividades sociais e cívicas, onde a falta de acessibilidade pode resultar em exclusão significativa.

Dentro desse contexto, a legislação atua como um mecanismo de salvaguarda, assegurando que padrões mínimos de acessibilidade sejam atendidos. No entanto, cumprir a letra da lei não deve ser o fim, mas sim o ponto de partida. O objetivo final deve ser a criação de experiências ricas e gratificantes para todos os usuários, algo que se alcança com um profundo entendimento das necessidades humanas e dos princípios de design inclusivo.

A acessibilidade não deve ser um anexo ou uma revisão tardia no processo de desenvolvimento. Ela deve ser integrada desde as fases iniciais de concepção e design, e deve continuar sendo uma consideração ao longo do ciclo de vida de qualquer sistema ou aplicação. Isso requer uma abordagem interdisciplinar que combine expertise técnica com uma sensibilidade às questões humanas, culturais e sociais que a acessibilidade engloba.

Em última análise, a acessibilidade beneficia não apenas aqueles com deficiências, mas a sociedade como um todo. Interfaces mais acessíveis são frequentemente mais intuitivas e fáceis de usar para todos os usuários, independentemente de suas habilidades. Além disso, ao projetar para a inclusão, ampliamos nosso entendimento sobre a diversidade humana e cultivamos uma cultura tecnológica que valoriza e respeita essa diversidade.

Portanto, ao concluirmos este livro, é fundamental que cada leitor reconheça o papel que pode desempenhar na promoção da acessibilidade. A busca por um design verdadeiramente inclusivo é um esforço coletivo, e cada contribuição, não importa quão pequena, move-nos um passo mais perto de um mundo onde a tecnologia seja acessível para todos.