Módulo 1: Fundamentos da Educação Bilíngue de Surdos (Livro Digital)
3.2 Registro e avaliação
Os processos de registro e avaliação são elementos pedagógicos importantes quando tratamos da educação em geral. Na educação bilíngue, tais processos ganham novos contornos, interpelando os profissionais a levar em consideração as características das línguas e das formas de aprendizagem envolvidas. Apesar disso, se observarmos o plano legal, ainda há poucas menções ou orientações acerca da sistematização desses processos no âmbito das práticas pedagógicas. Vamos procurar apresentar algumas reflexões e possibilidades ao longo deste tópico.
Iniciemos refletindo sobre os processos de registro. Em contextos de ensino e aprendizagem envolvendo a modalidade linguística visuoespacial, exige-se do estudante atenção visual direta no interlocutor usuário da língua de sinais, inviabilizando o registro simultâneo em português. Isso implica “na necessidade de organização de tempos específicos para o registro da aprendizagem” (Bär, 2009, p. 215).
Além de tempos específicos, o planejamento pedagógico deverá considerar a necessidade de instrumentos específicos voltados para o registro em vídeo no caso da língua de sinais. Para os registros em língua portuguesa, deve-se levar em consideração as implicações do uso do português como segunda língua, além de lançar mão de recursos de visualidade, a exemplo dos que citamos no tópico anterior.
Acerca da avaliação na educação de surdos, o Decreto nº 5626/2005 indica que cabe às instituições de ensino:
Percebemos que na legislação citada a avaliação está predominantemente focada na mensuração da aprendizagem, o que é crucial. No entanto, é igualmente relevante considerar o papel da avaliação como uma ferramenta formativa e processual para analisar os processos de ensino e aprendizagem. É nesse ponto que o registro e a avaliação se entrelaçam.
Enquanto o registro permite a organização do aprendizado pelo aluno e a observação e coleta sistemática de informações sobre suas experiências e condições de aprendizagem pelo professor, a avaliação processual contribui para a análise desses registros, visando compreender o progresso a fim de planejar atividades futuras.
Os recursos visuais desempenham um papel estratégico no registro da aprendizagem dos estudantes surdos, pois oferecem suporte à compreensão e à expressão visual da informação. Vamos pensar em alguns exemplos, inclusive remetendo a alguns dos recursos que citamos no tópico anterior.
Infográficos: Podem ser utilizados para explicar processos científicos, como o ciclo da água ou a cadeia alimentar, ou para apresentar dados históricos, como as etapas de uma revolução. Por exemplo, um infográfico sobre a anatomia humana pode mostrar o sistema respiratório em detalhes.
Histórias em Quadrinhos: podem ser utilizadas como estratégia de registro para narrar eventos históricos, biografias de personalidades importantes ou mesmo para criar histórias ficcionais que explorem temas relevantes. Por exemplo, uma história em quadrinhos pode contar a vida de um cientista relevante e suas descobertas, com diálogos em língua de sinais escrita e em português.
Encenações Teatrais: Permitem a exploração de obras literárias, momentos históricos ou situações cotidianas de forma dinâmica e participativa, a exemplo de uma peça sobre os direitos humanos.
Fotografia: Pode ser utilizada para documentar projetos de pesquisa, expedições de campo ou para criar ensaios visuais que abordam questões sociais, ambientais ou culturais, por exemplo.
Os recursos e estratégias citados anteriormente possuem caráter de sugestões. É claro que cada nível de ensino, grupamento, área ou característica da turma dará oportunidade a distintas abordagens.