1.1 Ludicidade

Agora que você refletiu sobre movimento e ludicidade nas escolas a partir dos seus conhecimentos prévios e compartilhou suas ideias com os colegas, vamos conhecer o conceito e a etimologia da palavra ludicidade, bastante utilizada no contexto da educação.

Segundo Massa (2015), baseado em Huizinga (2000) e Brougère (1998), a pluralidade de significados atribuídos à palavra LUDICIDADE não existe no dicionário da língua portuguesa, tampouco em outras línguas, como inglês, francês, alemão, espanhol ou italiano. Como não dispomos de nenhuma outra palavra que agregue os significados atribuídos à ludicidade, consideramos a origem semântica dessa palavra, que vem do latim LUDUS, que significa jogo, exercício ou imitação.

Huizinga (2000), em sua obra O Homo Ludens (1938), considerou o jogo como elemento da cultura e destacou que:

“[...] se eu quisesse resumir meus argumentos sob a forma de teses, uma destas seria que a antropologia e as ciências a ela ligadas têm, até hoje, prestado muito pouca atenção ao conceito de jogo e à importância fundamental do fator lúdico para a civilização” (Huizinga, 2000, p.1).

O autor ressalta que, no verdadeiro jogo, é preciso que o homem jogue como uma criança. Em sua obra, ele retrata muito bem o jogo infantil e as brincadeiras repletas de imaginação, prazer e representação:

“[...] sabemos que as exibições das crianças mostram, desde a mais tenra infância, um alto grau de imaginação. A criança representa alguma coisa diferente, ou mais bela, ou mais nobre, ou mais perigosa do que habitualmente é. Finge ser um príncipe, um papai, uma bruxa malvada ou um tigre. A criança fica literalmente "transportada" de prazer, superando-se a si mesma a tal ponto que quase chega a acreditar que realmente é esta ou aquela coisa, sem contudo perder inteiramente o sentido da "realidade habitual". Mais do que uma realidade falsa, sua representação é a realização de uma aparência: é "imaginação", no sentido original do termo" (Huizinga, 2000, p.17).

Na civilização atual, a sistematização do jogo e a sua rigidez fizeram com que se perdesse a essência lúdica.

Ainda sobre ludicidade, citaremos Vigotski que, ao considerar a zona de desenvolvimento proximal, demonstrou que a atividade lúdica cria uma zona de desenvolvimento próprio na criança, de maneira que, durante o período em que joga, ela está sempre além da sua idade e do seu desenvolvimento real (aquilo que a criança consegue fazer sozinha, sem ajuda). O jogo constitui-se assim, uma fonte muito importante de desenvolvimento, pois cria zonas de desenvolvimento proximal e potencial (Miranda, 2017).

Uma das mais importantes contribuições de Vigotski ao estudo do jogo infantil foi quanto ao jogo simbólico, o “faz de conta” no qual a criança sabe bem a fronteira que separa a realidade da fantasia. É de extremo valor para o desenvolvimento infantil, uma vez que ajuda a desenvolver a imaginação, a assimilação da realidade, exercita a fantasia, e, em se tratando de escolarização, favorece a representação simbólica, que é uma condição importante para galgar etapas seguintes (Miranda, 2017, online).