2.1 A importância do Brincar

Se você se lembrou da sua infância e de como, quando e com quem você brincava, certamente percebeu o quanto brincar foi importante para você, certo?

Mas, para além de entendermos a importância do brincar em uma dimensão subjetiva e individual, vamos refletir, de forma mais embasada, sobre a relevância dessa atividade na formação da criança.

O brincar é uma ação importantíssima para o desenvolvimento do ser humano desde sua infância, pois essa atividade contribui significativamente para a constituição dos sujeitos. Contribui para a construção de valores, para a socialização e para o desenvolvimento de várias habilidades, dentre elas: físicas, psicomotoras, cognitivas, emocionais etc.

Brincar é uma das principais atividades da criança. É por meio da brincadeira que ela revive a realidade, constrói significados e os ressignifica momentos depois. Dessa forma, aprende, cria e se desenvolve em todos os aspectos (Pozas, 2011, p.15).

Para explicar a importância do brincar, do brinquedo e das brincadeiras para as crianças, Kishimoto (1994) nos lembra da Declaração Universal dos Direitos das Crianças, aprovada pelas Nações Unidas no ano de 1959. Essa Declaração define os princípios que são a base dos direitos das crianças. Assim toda a criança e todo adolescente possui direitos, sendo alguns deles:

  • Direito à vida e à saúde
  • Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade
  • Direito à convivência familiar e comunitária
  • Direito à educação, cultura, ao esporte e ao lazer
  • Direito à profissionalização e à proteção no trabalho
  • Direito a ser a primeira a receber proteção em acidentes, calamidades ou desastres
  • Direito a crescer em um ambiente de amor, segurança e compreensão
  • Direito a não ser discriminado por raça, religião ou posição social
  • Direito a receber educação primária gratuita e de qualidade
  • DIREITO A BRINCAR E SE DIVERTIR

Então, se brincar é um direito, significa que a importância dessa atividade é indiscutível, concorda?

A essência da criança está no brincar. Vamos entender mais sobre isso assistindo ao vídeo O Começo da Vida: Brincar

Conforme Lino Macedo (1995), nos dois primeiros anos de vida a criança tem duas formas de brincar. A primeira é a brincadeira com os adultos. A criança precisa da ação dos adultos, uma vez que são as pessoas que se comunicam com as crianças, que falam, sinalizam com ela, que cantam e dançam com ela, que a fazem rir, que lhe contam histórias.

O segundo tipo é a brincadeira com os objetos, com ou sem outras crianças junto.

Essas duas formas de brincadeira nos dois primeiros anos de vida preparam a criança para a brincadeira simbólica que se dá a partir dos dois anos.

Para Kishimoto (1994), a importância do brincar se justifica na medida em que essa atividade oportuniza à criança vários aprendizados e competências importantes, o que inclui: a liberdade, a decisão, a escolha, a experiência, a organização, a imitação, o movimento corporal, a representação, a expressão, a comunicação, entre tantos outros aspectos.

Disponibilizar à criança objetos e brinquedos ao seu alcance, desde quando bebês, significa garantir seu direito de escolher, decidir, protagonizar suas próprias ações e intenções. Portanto, de nada adianta ambientes, quartos, salas, brinquedotecas com objetos e brinquedos que não estejam ao alcance dos pequenos. Esses objetos estarão ali cumprindo uma função meramente decorativa. “O direito do bebê pelo brinquedo precisa ser ofertado de modo que ele tenha acesso ao brinquedo” (Kishimoto, 2011).

Por volta dos nove meses o bebê geralmente já consegue se colocar sentado, e poucos meses depois, em torno dos dez meses, ele engatinha. Subsequentemente, lá pelos onze meses, consegue se levantar e dar os primeiros passos se apoiando e, em seguida, caminha sozinho (entre os 12 e 14 meses).

Quando a criança se senta, engatinha e realiza os primeiros movimentos de locomoção e deslocamento pelo espaço, ainda que seja no espaço em seu entorno, ela já pode, por exemplo, escolher o brinquedo que quer e, inclusive, ir ao encontro dele.

Quando a criança consegue ficar em pé, andar e se locomover pelo espaço, a importância do brincar, sobretudo com objetos e/ou brinquedos que instiguem novos movimentos e posturas corporais, se intensifica ainda mais.

Na prática

Para ilustrar o que estamos abordando, pensemos em uma carriola (carrinho de mão), por exemplo.

Ao conduzir uma carriola para lá e para cá a criança desenvolve incontáveis habilidades, que vão para além de tudo aquilo que já foi mencionado em termos de liberdade, escolha, tomada de decisão.

Conduzir uma simples carriola demanda da criança uma riqueza de movimentos. Desde a ação de empunhar os cabos/alças da carriola e deslocá-la pelo ambiente – o que lhe demandará noções de espaço, localização, ambiente, e também transposição de obstáculos, organização e ordenação visual-espacial até a ação de colocar e/ou tirar conteúdos de sua caçamba (areia, objetos, água, brinquedos) – exigindo-lhe desafios de mobilidade, equilíbrio, coordenação, controle, força, gerenciamento corporal (braços, pernas, mãos, dedos).

Dos dois anos de idade em diante, as crianças entram numa fase em que o brincar compreende a dimensão da imitação, da imaginação e do faz de conta. Nesse período as brincadeiras simbólicas passam a ter um lugar central no brincar. A criança começa a imitar as ações do adulto.

Oportunizar a criança o contato com objetos e/ou brinquedos que representem objetos de seu cotidiano é uma forma de possibilitar a verificação por si só, em sua própria experiência corporal e sensível (sentindo e vivenciando), a ação de manusear e usar tal objeto tal como se faz no mundo real do adulto. Por exemplo: verificar e experienciar a ação de servir uma xícara de café/chá com um bule, ou de mexer o conteúdo da xícara com uma colher.

Figura 1 - Criança brincando de “chazinho”

 

A criança entra no mundo do faz de conta para dominar as coisas que vê, observa e percebe. Especialmente as coisas do dia a dia, da sua vida cotidiana e de tudo o que envolve o ambiente na qual vive e convive. Assim, “Oferecer brinquedos que representem o mundo doméstico é fundamental para a criança se desenvolver” conforme afirma Kishimoto (2011). Todas as habilidades que ela desenvolverá com esses brinquedos contribuirão significativamente com sua expressão, com sua comunicação (verbal e não verbal) e, especialmente, com o desenvolvimento de sua linguagem.

No brincar, a comunicação por meio da palavra – seja essa uma palavra vocal-auditiva (línguas orais) ou uma palavra corporal-visual (línguas sinalizadas) – é crucial para a criança processar, externar e, por conseguinte, assimilar cada vez melhor a representação da realidade que a circunda.

Para Mello (2007) é pelo brincar que a criança desenvolve ainda mais a linguagem, o pensamento, a atenção, a memória e os sentimentos morais. Também controla a própria conduta, aprimora sua capacidade de conviver no coletivo, já que a brincadeira de protagonizar papeis nada mais é do que representar o que está apresentado diante de si em sua vida diária.

Ainda na visão de Kishimoto (2011), para além do já exposto, a importância do brincar se justifica também porque brincar compreende o corpo, o movimento, a afetividade. Auxilia também no enfrentamento de frustrações, no saber esperar, na compreensão de ganhar e perder.

Crianças que brincam bastante, desenvolvem o espírito de liderança, aprimoram sua capacidade de criatividade, originalidade, inventividade, flexibilidade, raciocínio lógico e abstrato. Crianças que brincam mais, aprendem mais, pois desenvolvem a habilidade do diálogo, suas competências interpessoais, o enfrentamento de situações adversas, o discernimento e a empatia com a diversidade.