2.2 Brincadeira, brinquedo e jogo

Historicamente, o termo em Língua Portuguesa brincadeira sempre esteve relacionado aos termos brinquedo e jogo. Existe uma relação entre esses três conceitos, isso porque seus significados se atravessam.

Brincadeira, brinquedo e jogo não possuem um conceito único e as diferenças conceituais costumam ser identificadas por diferentes autores e suas respectivas abordagens teóricas. Um ponto em comum, no entanto, é o fato de a palavra brincar ser polissêmica [1], tal como o sinal BRINCAR em Libras.

Neste material nos baseamos nos conceitos definidos pelo pesquisador francês Gilles Brougère (1991; 1995) e nos entendimentos da pesquisadora brasileira Tizuko Morchida Kishimoto que, em sua obra O Jogo e a Educação Infantil (1994), define objetivamente:

  • a brincadeira como a descrição de uma conduta estruturada, com regras;
  • o brinquedo como objeto, suporte da brincadeira; e
  • o jogo como ação lúdica que envolve situações estruturadas pelo próprio tipo de material.

Segundo o dicionário Aurélio (Ferreira, 1983, p. 228) o termo brinquedo pode significar indistintamente objeto que serve para as crianças brincarem; jogo de criança e brincadeiras.

Para Kishimoto (1994) o sentido usual permite referenciar os três termos como sinônimos, mas essa situação, na perspectiva da autora, reflete o pouco avanço dos estudos na área.

Não há um conceito único, “correto” e definitivo. Nossa intenção aqui não é ter a preocupação de uma definição exata, tampouco uma explicação prescritiva de cada termo. Mas, sim, apontar algumas ideias que nos ajudarão no trabalho na educação lúdica com as crianças surdas e ouvintes.

Brougère (1991) entende que os brinquedos – aqueles construídos especialmente para as crianças – adquirem sentido lúdico quando funcionam como suporte da brincadeira, pois caso contrário, são meros objetos. É a função lúdica que atribui o estatuto de brinquedo ao objeto.

Para Kishimoto (1994) os brinquedos podem ser utilizados de diferentes maneiras pela própria criança, mas os jogos (como os de tabuleiro), trazem regras estruturadas que definem a situação lúdica.

O brinquedo, enquanto objeto, é o suporte da brincadeira e não deve ser reduzido à pluralidade de sentidos do jogo, pois evoca criança e tem uma dimensão material, cultural e técnica. É o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil (Kishimoto, 1994). Para a autora, brinquedo e brincadeira se relacionam diretamente com a criança e não se confundem com o jogo.

Conforme Brougère (1995), o brinquedo supõe uma relação com a infância e uma indeterminação quanto ao uso. Isto é, a inexistência de regras que organizem o uso do objeto. “O brinquedo não é a materialização de um jogo, mas uma imagem que evoca um aspecto da realidade e que o jogador pode manipular conforme sua vontade” (p. 15).

Já o jogo implica de maneira explícita o lúdico que assume a forma de regra ou de uma restrição interna que constituem uma estrutura preexistente ao material.

A partir do século XIX houve uma mudança na concepção de criança e também na concepção de brincadeira, que antes era vista como uma distração, uma recreação apenas.

No final do século XIX novos discursos pedagógicos sobre jogo também surgiram, uma vez que surgiu a noção de jogo educativo para conciliar a presença do jogo com o objetivo educativo.

A obra de Pieter Bruegel, Jogos Infantis, de 1560, insere-se no contexto da pintura flamenga do período da Renascença com aspectos de nítida particularidade. Sua temática, primeiramente, a exemplo de outras pinturas de considerável importância no estudo da obra de Bruegel (Cabral, 2012), volta-se às manifestações culturais populares.

Observe a imagem abaixo, da obra Jogos Infantis, e tente identificar as brincadeiras infantis nela retratadas:

Fonte: meisterdrucke.pt

 

Algumas das brincadeiras retratadas pelo artista na obra são: pular corda, cavalo de pau, cabra-cega, perna de pau, rodar aros, esconde-esconde, pião, boneca, cabo de guerra, bolhas de sabão.

Além dessas, quais outras brincadeiras você identificou na obra?


[1] Uma palavra polissêmica é aquela que apresenta um grande número de significados em uma só palavra. O seu significado dependerá do contexto em que estiver inserida.