2.4 O corpo como primeiro brinquedo da criança

Uma vez que compreendemos que o corpo é o primeiro brinquedo da criança, podemos inferir que o primeiro brinquedo da criança surda é seu corpo em todo seu potencial comunicativo, expressivo e linguístico.

Surdos são indivíduos genuinamente corporais, desde que nascem. O potencial de sua corporalidade é identificado desde cedo, uma vez que se comunicam e se relacionam com o mundo por meio do corpo.

Como antes mencionado, crianças surdas apreendem o mundo pelo sentido da visão. Da mesma forma, se relacionam com o mundo e a ele respondem e se expressam por meio do seu corpo.

Outro pilar central que você deve ter em mente quando pensar no desenvolvimento da criança surda, no seu brincar, movimento e ludicidade, é a corporalidade.

Corporalidade se refere à compreensão do corpo, através das suas sensações e movimentos, pelo qual estabelecemos nossa relação com o mundo (Lima; Pelegrini, 2013). Reúne as percepções de corpo, movimento e ambiente.

Para Silva (2014, p.16) “A corporalidade pode ser compreendida como a materialidade corpórea em sua forma dinâmica de expressão humana, ao mesmo tempo, única, individual, ainda que, em alguma medida, seja compartilhada por todos.

De acordo com Gonçalves (1994, p.13)

A forma de o homem lidar com sua corporalidade, os regulamentos e o controle do comportamento corporal não são universais e constantes, mas sim, uma construção social resultante de um processo histórico. O homem vive em um determinado contexto social com o qual interage de forma dinâmica, pois, ao mesmo tempo que atua na realidade, modificando-a, esta atua sobre ele, influenciando e, até mesmo podemos dizer, direcionando sua forma de pensar, sentir e agir.

As práticas corporais fazem parte da corporalidade humana e se manifestam na cultura de um povo através dos jogos, das danças, dos esportes. São uma forma de linguagem com profundo enraizamento corporal (Silva, 2014).

No artigo A criança surda “falando” pela brincadeira: infância, corpo e ethos surdo, a pesquisadora Maria Carmen Euler Torres apresenta o relato de uma pesquisa com crianças do G4 (entre 3 e 4 anos), sobre a importância da brincadeira no desenvolvimento das crianças surdas.

A criança surda “falando” pela brincadeira