Até os anos 80, o pensamento sobre riscos e desastres era dominado por um paradigma fisicalista, embasado em uma visão que entende os desastres como eventos extremos puramente naturais ou físicos, desconsiderando as interações sociais e as condições de vulnerabilidade.

Segundo esta perspectiva, estabelecia-se uma relação linear causal direta, entre ameaças e desastres, ignorando o papel das atividades humanas na criação de condições favoráveis à ocorrência de desastres. 

Os estudos centravam-se nas ameaças e ficavam, quase exclusivamente, a cargo das ciências físico-naturais (engenharia, hidrologia, geologia e geomorfologia, climatologia, etc.). A participação das pessoas e comunidades não era incluída ou era diminuta.

A "naturalização dos desastres" refere-se à tendência de considerar os desastres como inevitáveis e puramente naturais, o que pode levar à desresponsabilização social e à negligência na prevenção e mitigação de seus impactos. É crucial diferenciar o evento natural do desastre, que é o resultado da interação entre esse evento e as condições de vulnerabilidade das pessoas e do ambiente. 

Este paradigma pode levar a uma percepção simplificada dos desastres e, consequentemente, a ações de planejamento e gestão que não consideram a complexidade dos riscos e a vulnerabilidade das populações. 

A partir dos anos 80, o paradigma fisicalista passou a ser fortemente criticado, e os desastres ditos “naturais” começaram a ser vistos como o resultado de um processo de interações entre ameaças e vulnerabilidades.

Começa, assim, a afirmar-se o paradigma dos desastres como construção social, conhecido como paradigma da vulnerabilidade, que argumenta que os desastres não são meros eventos naturais, mas sim o resultado da interação entre um fenômeno adverso e as condições sociais, econômicas e políticas preexistentes de uma sociedade. 

O surgimento deste outro paradigma, iniciando uma corrente de pensamento e ação que deu origem ao que hoje designamos de Gestão de Risco e Desastres, esteve muito ligado à ação de pesquisadores das ciências sociais e humanas.

A ênfase não está apenas no evento físico, mas na vulnerabilidade intrínseca de uma comunidade ou sociedade a esses eventos, que é moldada por fatores como desigualdade, pobreza, acesso a recursos e infraestrutura inadequada. 

Compreender os desastres como construções sociais é crucial para o desenvolvimento de estratégias de gestão de riscos mais eficazes, que abordem as causas profundas da vulnerabilidade e promovam a participação social e a resiliência. 

De uma forma mais sistêmica, o paradigma do risco como emergências ambientais, também conhecido como paradigma da complexidade, refere-se à abordagem que compreende os desastres não apenas como eventos naturais, mas como resultado da interação complexa entre ações humanas, tecnologias e a capacidade de previsão e controle da sociedade moderna. Quer a ameaça seja natural ou tecnológica, na composição do risco irão sempre entrar as componentes de susceptibilidade, exposição e vulnerabilidades, características de um certo tipo de ambiente particular.

Este paradigma é fundamental para entender a crise ambiental atual e a necessidade de uma "racionalidade ambiental" que priorize a sustentabilidade e a preservação para as gerações futuras. 

Quando falamos de sociedade de risco (de Ulrich Beck), estamos nos referindo a um sentido muito amplo. Uma parte dos riscos advém da própria tecnologia, seu uso e suas falhas. Os alimentos geneticamente modificados, a utilização de energia atômica, uso generalizado de pesticidas na agricultura, bactérias super-resistentes, elevada poluição do ar, da água e dos solos, transporte e armazenamento de produtos perigosos, etc. Trata-se, pois, de analisar e compreender em que medida as sociedades modernas, em seus elevados padrões tecnológicos e de produtividade, geram novos e mais ampliados cenários de risco.

A falta de planejamento territorial, entre outros fatores, está causando fortes pressões demográficas, sociais e econômicas (pobreza, migrações, desemprego, etc.). Além disso, existem questões sociais que estão associadas ao progresso e que geram diversas situações de riscos, como a falta de saneamento básico e a proliferação de doenças.

Por outro lado, continuam se repetindo dinâmicas que já provaram ser geradoras de cenários de risco, como as destruições de sistemas naturais de proteção litorânea (dunas, mangues e restingas), a extensiva impermeabilização de solos ou a sistemática alienação das redes hídricas.

Em síntese, pode afirmar-se que os riscos são, em grande parte, socialmente construídos, em direta relação com processos de desenvolvimento das sociedades modernas e pós-modernas e a ausência ou deficiência dos processos de planejamento que lhe estão associados. 

A afirmação de outros paradigmas não conduziu a um total desaparecimento do paradigma fisicalista nem da tendência de naturalização dos desastres que, sistematicamente, ressurgem, sob diversos pretextos. Assim, por exemplo, a generalidade das classificações de desastres continua postulando a existência de “desastres naturais”. 

A Proteção e Defesa Civil, através da gestão integrada de riscos e desastres, busca atuar na redução, manejo e recuperação dos desastres, considerando essa complexidade e abrangendo ações em todo o ciclo completo de Proteção e Defesa Civil. Estas ações são desenvolvidas de forma multissetorial e nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal), com ampla participação da sociedade.

 

Last modified: Tuesday, 26 August 2025, 3:31 AM