Livro 1: A criança surda e o desenvolvimento da linguagem (Livro Digital)
3.4.2 Avaliação como forma para identificar o conhecimento linguístico
Antes de iniciar qualquer trabalho pedagógico é preciso saber de onde partir, não é mesmo? É preciso saber quais conhecimentos as crianças já construíram e, no caso das crianças surdas, principalmente, o quanto já adquiriram da língua.
Para orientar as práticas que serão realizadas para promover a aquisição da língua de sinais, é fundamental que o professor utilize formas de avaliação que o permitam identificar o nível de conhecimento linguístico daquela criança. A avaliação poderá ocorrer por meio de instrumentos formais ou informais - por registros diários, a partir da observação do docente.
Quadros e Cruz (2011) disponibilizam em seu livro “Língua de Sinais: instrumentos de avaliação” a descrição, aplicação e a análise de avaliação em língua de sinais. De modo geral, as autoras propõem avaliar os aspectos relacionados à compreensão e expressão em crianças surdas a partir dos 04 anos de idade, a fim de possibilitar ao professor verificar se o desenvolvimento da linguagem está dentro do esperado para a idade ou não e, a partir disso, planejar intervenções que possam colaborar nesse processo.
Observe no quadro abaixo o que as autoras propõem sobre cada um dos tipos de avaliação:
Quadro 1 - Avaliação da Linguagem de Sinais
Avaliação da Linguagem Compreensiva
O objetivo é avaliar a compreensão da criança em língua de sinais, através da observação do processamento das informações linguísticas.
Para isso, as crianças visualizam vídeos com frases - de diferentes níveis (I, II e III) - e, em seguida, escolhem as fichas que correspondem à sentença sinalizada.
Na fase I, são apresentadas frases simples. Já na fase II, as sentenças são mais complexas e há um aumento de vocabulário. Na fase III, há um aumento da complexidade sintática, como o uso de diferentes espaços. Abaixo você pode ver um exemplo de texto sinalizado e das fichas que são disponibilizadas na fase I para verificação da compreensão.
Fonte: Quadros e Cruz (2011)Caso você não tenha acesso ao material de Quadros e Cruz (2011), é possível criar seus próprios instrumentos. Por exemplo, o professor pode sinalizar as frases e escolher as imagens que irão compor as fichas visuais.
Avaliação da Linguagem Expressiva
O foco está na produção da criança, na capacidade de expressar-se em língua de sinais.
Desse modo, a avaliação parte da apresentação de uma narrativa em vídeo para a criança, a qual, em seguida, produzirá, em língua de sinais, o que foi observado.
Recomenda-se que a sinalização seja gravada para posterior análise, onde o professor poderá fazer uma transcrição e observar o uso adequado ou inadequado de algumas questões, como o uso de classificadores, o uso de referências no espaço, a quantidade de fatos e se há existência ou não de uma sequência lógica. Além disso, é possível analisar também o nível fonológico, semântico, morfológico, sintático/discursivo dessa criança.
Caso você não tenha acesso ao material de Quadros e Cruz (2011), sugerimos utilizar vídeos com narrativas curtas disponíveis na internet.
Fonte: Adaptado de Quadro e Cruz (2011)
Você se sentiria capacitado(a) para realizar uma avaliação com base nos instrumentos apresentados no quadro acima? Conseguiria analisar a produção da criança surda e fazer as escolhas de intervenções pedagógicas para potencializar o seu desenvolvimento linguístico?
Você conseguiu perceber que o trabalho com as crianças surdas exige do professor conhecimentos pedagógicos e linguísticos? Por isso, é fundamental que os profissionais que atuam com esse público tenham conhecimento da língua de sinais, busquem capacitar-se para compreender a língua da criança surda, pois é através dela que o trabalho em sala de aula acontecerá.
Sempre que abordamos o desenvolvimento da língua de sinais, em atividades pedagógicas voltadas para a aquisição da linguagem, trabalhamos - direta ou indiretamente - o aprimoramento dos aspectos linguísticos em seus mais variados níveis.
As atividades contemplarão, por exemplo, a apropriação do uso consistente de referentes presentes e não presentes (sintaxe), as formas de registro da língua (pragmática), a marcação de plural ou intensidade por meio das expressões não manuais (morfologia), a configuração de mão (fonologia), entre outras características.
É importante destacar que as propostas de intervenções devem se relacionar à realidade da criança, ao uso que ela faz da língua no ambiente escolar, familiar ou social.
Cool et al (1995 apud Quadros e Cruz, 2011) elencaram algumas orientações básicas para serem consideradas pelos profissionais que atuam diretamente com as crianças surdas, como por exemplo:
- adequar as escolhas ao conhecimento e experiência da criança;
- partir dos interesses da criança para tornar a aprendizagem significativa;
- reforçar os acertos das crianças e evitar corrigir;
- reforçar os êxitos e dar feedback;
- oportunizar práticas que possibilitem o uso da linguagem, como questionar, realizar julgamentos;
- proporcionar momentos lúdicos e
- fomentar a participação da família nas atividades propostas.
Você estudou até aqui sobre a apropriação da língua de sinais pelas crianças surdas. Mas e a aprendizagem do português escrito como segunda língua, como acontece?
Na sequência do estudo, ampliaremos os conhecimentos sobre esse assunto, vamos lá?