1. Práticas de alfabetização e letramento para crianças surdas

As práticas de alfabetização e letramento precisam ocorrer de forma organizada e, sobretudo, sequenciada para que os alunos surdos consigam construir uma compreensão significativa da escrita da segunda língua, entendendo não apenas sua forma (letras e palavras soltas), mas, principalmente, as relações de sentido que essa língua possui.

É possível encontrarmos muitos alunos surdos na educação básica que, em suas produções leitoras, são totalmente dependentes do professor e, em suas produções escritas, são apenas copistas e não compreendem o que estão copiando do quadro. Para esses alunos, a segunda língua escrita ainda não é significativa.

A construção de sentido dos sujeitos surdos se dá, prioritariamente, em língua de sinais. A partir dessa primeira língua é possível refletir sobre a sua e outras línguas, criar hipóteses, ampliar seus conhecimentos e se desenvolver linguisticamente.

As práticas de alfabetização e letramento de alunos surdos em português escrito envolvem a leitura (recepção), a análise linguística (processamento linguístico) e a escrita (produção). Antes mesmo dessas três fases, no entanto, é importante que os alunos acessem conhecimentos de mundo os quais, muitas vezes, não tiveram/têm contato devido a privação linguística que ainda ocorre em nossa sociedade que é majoritariamente ouvinte.

É importante entender, como detalharemos mais à frente, que esse acesso ao conhecimento de mundo deve se dar em língua brasileira de sinais, primeira língua do aluno surdo, e, preferencialmente, a partir de outro sujeito surdo. Na imagem apresentada (figura 1), por exemplo, podemos ver a professora surda e contadora de história Lyvia Cruz (modelo linguístico) interagindo com um aluno surdo.

Figura 1 - Professora surda interagindo com aluno surdo

Fonte: Ondas de Tradução (2023)

Nessa perspectiva, pensaremos neste módulo em práticas de alfabetização e letramento para alunos surdos que envolverão a ampliação do conhecimento de mundo a partir de repertórios socioculturais e o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e competências necessários à leitura (recepção), à análise linguística (processamento da linguagem) e à escrita (produção).

Como indica Fernandes (2003), o ponto de partida para qualquer atividade de leitura/escrita envolve uma primeira premissa: mesmo o que pareça óbvio deve ser objeto de explicação e sistematização por parte do professor. É importante que partamos desse ponto para construirmos um percurso seguro de quais práticas pedagógicas podemos desenvolver no processo de alfabetização e letramento de alunos surdos.

Você estudou no módulo 1 como ocorre o desenvolvimento da linguagem da criança surda e os diferentes papéis que as línguas (de sinais e portuguesa) ocupam na vida desse sujeito. Esses aspectos são fundamentais para pensarmos, neste módulo, sobre as práticas relacionadas ao processo de alfabetização e letramento para alunos surdos.