5.1 Utilização de textos da cultura surda

Já mencionamos que é importante que os alunos sejam expostos a diferentes textos, gêneros e contextos sociais. Mas precisamos ressaltar que o acesso a textos da cultura surda é fator indispensável e possibilita que os alunos desenvolvam também uma identidade surda. Alguns exemplos de literatura que contempla a cultura surda são:

  1. Manoelito, o palhacinho tristonho (história trilíngue: sign writting, português e inglês)
  2. Tibi e Joca
  3. Tirinhas e HQs, como That deaf guy e HQs bilíngues (disponíveis para download gratuito no site da Editora Letraria)
  4. Programas da TV INES que podem ser transcritos a partir da legenda e ofertados aos alunos em Libras com legenda e depois em português. Os programas são interessantes pois abordam temas diferentes como é possível ver a seguir.



     

  5. Obras brasileiras, como O lobinho bom, Clara, As centopeias e seus sapatinhos, narradas por uma professora surda e contadora de história Carolina Hessel, no canal Mãos Aventureiras

O contato com um modelo linguístico, ou seja, um adulto surdo sinalizando Libras em primeira língua é essencial para o desenvolvimento dos alunos surdos. Acessar contações de histórias em Libras como primeira língua podendo entender com clareza o que está sendo narrado, discutir em Libras com o professor o que foi entendido, o que aconteceu, onde aconteceu, quando aconteceu, como aconteceu, quem fazia parte da história, qual a ordem dos fatos é a melhor forma de ampliar o conhecimento de mundo dos alunos surdos para que, a partir dessa base segura, eles possam acessar a segunda língua, ou seja, os textos escritos em português, e construir hipóteses sobre a leitura, uma vez que já sabem do que trata a história.

É possível, ainda, realizar um trabalho de intertextualidade, usando:

  • obras clássicas, como a história da Chapeuzinho vermelho
  • obras novas que dialogam diretamente com as obras clássicas, como Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque
  • retextualizações de obras literárias para outros formatos como o teatro em Chapeuzinho Surda Vermelho que traz o contexto da pandemia e da cultura surda:

 

Três pontos muitos importantes de serem ressaltados aqui são:

  • Primeiro, como apontou Peixoto (2015), infelizmente os alunos surdos ainda são expostos a poucos textos.
  • Segundo, muitas vezes são apresentados materiais e tarefas inadequados à faixa etária dos alunos surdos. Em algumas escolas, os mesmos textos são ofertados em diferentes séries não havendo uma progressão na complexidade dos textos que os alunos surdos têm contato.
  • Terceiro, também é comum o professor escolher “textos curtos e simples” e reduzir ou “adaptar” os textos disponíveis para serem usados, modificando os textos originais.

Se, como aponta Peixoto (2015, p. 146), queremos “[...] formar cidadãos capazes de usar a língua com autonomia e com pertinência às diversas situações comunicativas nos mais diferentes espaços e contextos, ou seja, de compreender e utilizar a língua(gem) adequadamente”, é importante ofertarmos textos autênticos aos alunos surdos, adequados a sua faixa etária, sem reduzir esses textos ou simplificá-los. Por isso, uma estratégia para professores que ainda se sentem inseguros com relação a língua brasileira de sinais é buscar vídeos de adultos surdos apresentando as obras que serão trabalhadas. Os alunos surdos precisam dessa referência e a falta de fluência em Libras do professor não pode ser um critério para não expor os alunos a textos mais complexos.

Dessa forma, é importante entendermos que o que vai variar nas propostas didáticas voltadas às várias etapas são os aspectos relacionados às expectativas de aprendizagem, ao tipo de ajuda a ser oferecida pelo professor e à complexidade dos textos. A inserção dos gêneros textuais no currículo deve ser pensada com o objetivo de ensinar práticas sociais de leitura e escrita que façam sentido para o aluno surdo, com propósitos comunicativos claros.