7.2 Escrita: propostas para trabalhar com alunos surdos

Lembra da atividade que propusemos ao longo deste módulo sobre os gêneros receita, lista de ingredientes, lista de compras e encarte de supermercado?

Se retomarmos esta atividade, podemos pensar em uma proposta de atividade de produção escrita como a elaborada pela professora Doani e compartilhada em sua página do Facebook Sala 8:

Figura 5: Atividade de produção escrita

Fonte: adaptado de Sala8 (2020)

Ou então podemos pensar em uma proposta de atividade de produção escrita em que o aluno precise avisar a mãe, através de um bilhete, sobre quais ingredientes da receita já foram comprados e quais ainda falta comprar para que seja providenciado.

Observe que nas propostas de atividades escritas sugeridas, contemplamos as habilidades (3) e (6) da proposta curricular de PSLS. Além disso, é importante notar que a atividade a ser realizada tem:

  • propósito comunicativo/função comunicativa: avisar quais ingredientes da receita já foram comprados e quais ainda falta comprar para que seja providenciado
  • destinatário: mãe
  • tema: ingredientes da receita
  • gênero: bilhete

Alguns pontos são fundamentais na proposição de atividades de escrita:

  1. o objetivo da atividade;
  2. o detalhamento da proposta de produção escrita;
  3. a articulação da atividade escrita com práticas sociais;
  4. a ciência de quais aspectos serão observados e discutidos com os alunos na atividade;
  5. o retorno ao aluno sobre sua escrita; e
  6. a realização de uma atividade de reescrita.

O primeiro e o quarto ponto (objetivo da atividade de escrita e ciência de quais aspectos serão observados na atividade de escrita) são importantes, pois o(s) objetivo(s) de aprendizagem está(ão) diretamente relacionado(s) ao(s) objeto(s) de conhecimento que será(ão) observado(s). Esses dois aspectos conduzem ao detalhamento da proposta e o retorno ao aluno sobre sua escrita, contribuindo para o processo de apropriação da língua portuguesa pelo aluno surdo.

O segundo e o terceiro ponto (detalhamento da proposta de produção escrita e articulação da atividade escrita com práticas sociais) são imprescindíveis, pois é a partir das informações dadas que o aluno poderá articular de forma mais precisa os recursos linguísticos de forma a atingir a função comunicativa solicitada no texto a ser elaborado.

Os enunciados fornecidos para as atividades de escrita devem necessariamente conter especificações sobre as condições de produção, tais como “a que gênero pertence o texto que vai ser produzido, [...] sua função comunicativa básica; o contexto e o público-alvo aos quais o texto será dirigido; o ponto de vista sob o qual se [escreve], onde e quando o texto será publicado” (DIAS, 2004, p. 213).

O quinto e o sexto ponto (retorno ao aluno sobre sua escrita e realização de uma atividade de reescrita) são essenciais, pois o processo de construção de sentido da/na escrita acontece na interlocução entre sujeitos e a negociação de sentido ainda está sendo aprendida pelos alunos surdos.

A escrita é, pois, “um processo interativo entre autor e leitor via texto, [tendo em vista] seu caráter recursivo (não linear) e [a] importância da colaboração entre pares (feedback), ao longo da produção textual” (DIAS, 2004, p. 213).

Saiba mais:

No livro Era uma vez... Uma Chapeuzinho, seis surdos, seis histórias..., de Juliana Nascimento, a autora apresenta sua pesquisa de mestrado sobre a escrita de alunos surdos em uma escola bilíngue que atende apenas alunos surdos.

Observe as imagens abaixo com a produção textual de alunos surdos:

Primeira escrita


Reescrita


Primeira escrita


Reescrita


Em suas considerações, a autora descreve:

O fato é que a surdez, inegavelmente, os distancia do português falado, e para se apropriar do português escrito são utilizadas outras vias, muitas vezes tortuosas, frutos de uma metodologia de ensino inadequada para o aprendizado do português como segunda língua. Como eles próprios afirmam, um ensino que prioriza a cópia não lhes possibilita a compreensão, nem o aprendizado. Os seus textos denunciam práticas pedagógicas, pelas quais passaram, como um aluno que copiou aleatoriamente algo; ou quando outro aluno construiu frases com estrutura fixa; ou, através da valorização da ilustração ante ao texto; ou, ainda, pela concepção de que português é palavra, de acordo com o depoimento de um terceiro aluno e, também, de acordo com o seu próprio texto (Nascimento, 2009, p.123, texto adaptado).

Conheça o livro completo

Na prática!

Se você trabalha com alunos surdos, analise o seu planejamento e as aulas que já ministrou. Se não trabalha, busque observar o trabalho de algum colega que tenha alunos surdos.

Observe e analise os seguintes aspectos:

Em uma aula de português para surdos em uma turma das primeiras séries do ensino fundamental (1º, 2º ou 3º ano), procure observar se nesta aula as especificidades linguísticas do surdo são consideradas. Observe dentre outras coisas se:

  • O professor dá aula em Libras?
  • Há diálogo, contação de histórias, apresentação dos textos, questionamento sobre o escrito?
  • O material escrito é acessado através da Libras ou através do português?
  • As crianças são convidadas a explorar o escrito, silenciosamente ou precisam oralizar o que leram?
  • As crianças são convidadas a produzir por conta própria ou apenas copiam?
  • Os textos das crianças apresentam evidências da estrutura da língua de sinais (interlíngua)? O que o professor pensa sobre a escrita do aluno surdo?

Socialize!

E então, conseguiu realizar a observação e análise sugeridas (acima) em uma aula de português para alunos surdos?

Compartilhe com seus colegas o que você observou e o que analisou.

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