1.1 A história de contar histórias

A história das narrativas orais se confunde com a história da humanidade.

Giordano (2007) e Moraes (2012) pontuam que a origem das narrativas orais é milenar e pode ter tido diferentes precursores, como os hindus, os árabes ou mesmo as civilizações ocidentais.

Giordano (2007) alerta que não existem provas concretas de qualquer paternidade. O que se pode afirmar é que a literatura oral perpetuou os contos na ausência da escrita, ao longo da história da humanidade, na voz dos contadores de histórias. A pesquisadora revela a influência das narrativas orais sobre os reflexos imagéticos, do poder infindável das palavras que criam redes imaginárias para criação de novos contos, de novas histórias.

No passado, o contexto social e as experiências do homem levavam à criação de muitos mitos revelados nos momentos das narrativas. Já no presente, encontramos a tendência da criação de contos. Fatores sociais modificam o conteúdo e as estratégias para as narrativas orais, mas é imutável o valor histórico que perpetua uma cultura e é inquestionável o poder envolvente e transformador que essas narrativas produzem em seus espectadores.

Você sabia?

Que os contadores de história também nasceram com a história da humanidade?

Para Giordano (2007) é difícil datar esse marco, pois configura-se em um período tão distante que nasce com o próprio conto e com o próprio homem e se conta em muitas histórias. Muitos desses homens aceitaram a incumbência de preservar a cultura de seu povo, suas tradições e mitos através das narrativas orais.

Saber da história e saber a história fazia parte do que se poderia chamar de “rituais”, como num ato de fé, por meio dos quais o conhecimento poderia mudar o curso dos acontecimentos de toda uma comunidade.

Segundo Giordano (2007), as palavras dos antigos contadores de histórias eram “aliadas ao extraordinário e ao mágico”, e ofereciam “asas” à imaginação. Os contos de tradição oral eram importantes ferramentas para perpetuação das tradições, como também momentos de reflexão, de trocas, de cumplicidade.

Além de abordar acontecimentos cotidianos, os contos também traziam para a roda acontecimentos sobrenaturais, fatos sem explicação que justificavam-se por mitos e crenças, que embutiam limites para além da compreensão da mente, mas que descortinavam o que preenchia o coração e alimentava a alma.

As narrativas orais se difundiram também como artefato cultural das pessoas surdas, em meio ao povo surdo e à comunidade surda. Isso mesmo, as narrativas orais! Entendemos como “narrativas orais”, no âmbito dos estudos das línguas de sinais, o momento da contação de histórias “face a face”, em que o narrador está diante de seus espectadores, produzindo ou reproduzindo narrativas, que podem ser ao vivo ou através de mídias visuais.

Essa trajetória histórica iniciou-se, segundo Mourão (2011), há milhares de anos, quando ainda não existia a escrita, e as histórias circulavam somente pela oralidade, passando de geração a geração. No caso da comunidade surda ou do povo surdo, essas histórias eram transmitidas através da sinalidade. Sendo assim, consideram-se narrativas orais oralizadas e narrativas orais sinalizadas.

Você sabia?

Que "sinalidade" é um termo usado em um estudo científico das Línguas de Sinais?

A pesquisadora Veridiane Pinto Ribeiro, em sua tese de doutorado intitulada A linguística cognitiva e construções corpóreas nas narrativas infantis em libras: uma proposta com foco na formação de TILs, defendida em 2016, usou o termo pela primeira vez, com o objetivo de se referir ao ato de se comunicar através de uma língua visuo-corpórea-espacial, no caso de sua pesquisa, a Libras.

Conheça a tese completa

Apesar da longevidade da existência das narrativas orais sinalizadas, os estudos e registros dessa temática são bastante recentes. O que vem sendo chamado de “literatura surda” ou "literatura em Libras", tem sido documentado atualmente por meio de tecnologias de mídia visual, ainda que os surdos já contassem e recontassem histórias, narrativas, piadas e vários gêneros literários em seus grupos na comunidade surda.