Módulo 2: Literatura, linguagem e visualidade na educação de surdos (Livro Digital)
2. O valor da Literatura
A informação está cada vez mais ao nosso alcance. Mas a sabedoria, que é o tipo mais precioso de conhecimento, essa só pode ser encontrada nos grandes autores da literatura. Esse é o primeiro motivo por que devemos ler. O segundo motivo é que todo bom pensamento, como já diziam os filósofos e os psicólogos, depende da memória. Não é possível pensar sem lembrar – e são os livros que ainda preservam a maior parte de nossa herança cultural. Finalmente, e este motivo está relacionado ao anterior, eu diria que uma democracia depende de pessoas capazes de pensar por si próprias. E ninguém faz isso sem ler (Harold Bloom, 2001, p. 35).
A reflexão trazida por Harold Bloom, autor do livro “Como e por que ler” e um entusiasta da arte de cultivar apaixonados pela literatura, provoca-nos a perceber o valor que o ato de ler gera em nossas vidas. O indivíduo que tem contato com a literatura, tem contato com o mundo, pois ao alimentar-se de sabedoria, a imaginação deixa de ter fronteiras e passa a construir pontes.
O termo Literatura tem origem na palavra latina littera, cujo significado é “letra”. Textos literários são aqueles cuja forma de expressão artística revelam a imaginação, a criatividade, a emoção, a essência humana. Os textos classificados como literários podem ser encontrados em romances, contos, poesias, dramas e por aí vai.
O que nos chama a atenção no conceito clássico de “Literatura” é a origem do termo, que tem como significado “letra”. Com base nesse conceito, muitos escritores defendem que o que compõe a literatura é a “palavra”.
Palavra puxa palavra, uma ideia traz a outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução; alguns dizem mesmo que assim é que a natureza compôs as suas espécies (Machado de Assis, 1883, online).
Esse trecho extraído do conto “Primas de Sapucaia”, publicado originalmente no jornal “Gazeta de Notícias”, por Machado de Assis, em 1883, demonstra o enorme valor que o escritor atribui à “palavra”, pois é através desse objeto simbólico que a literatura toma forma e vida pulsante.
A importância do contato da criança com a criação artística que tem a literatura como matéria-prima revela-se nas investigações de Vigotski (2014), que defendia as iniciativas para este contato em idade escolar, afirmando que o futuro do homem é conquistado através da imaginação criativa estimulada desde a mais tenra idade. O trabalho com a literatura infantil se faz essencial para o desenvolvimento da criança, quer seja em casa, na escola ou em espaços sociais, mas a escola tem papel fundamental nesse processo.
Costa (2007) também realizou estudos envolvendo as contribuições da literatura para o desenvolvimento cognitivo das crianças. A autora afirma que a literatura tem o poder de transformar texto em realidade no imaginário infantil, representando a viagem ao mundo que a criança conhece, convertendo-se em significado. O percurso que a literatura provoca no imaginário infantil pode ser representado da seguinte forma: realidade – literatura – realidade, um percurso guiado pelas experiências vividas, ouvidas, vistas e imaginadas, convertendo-se em significado, para, mais tarde, converter-se em criatividade.
Quando nos referimos aqui a crianças, independe de suas condições de interação com a literatura. Os fenômenos provocados pelos encantos literários se refletem em crianças surdas, ouvintes, cegas…, crianças que possam ter contato com a literatura de forma visual, auditiva ou tátil.
Para as crianças surdas, narrativas, principalmente em língua de sinais, no caso do Brasil, a Libras (Língua Brasileira de Sinais), são capazes de provocar esses efeitos imagéticos, construindo sujeitos criativos.