Módulo 2: Literatura, linguagem e visualidade na educação de surdos (Livro Digital)
3. O fazer narrativo
A criança surda precisa ser estimulada, desde a mais tenra idade, em língua de sinais. A convivência e as trocas com seus pares linguísticos constitui uma riqueza cultural que contribui para a construção humana e social da pessoa surda e é fator preponderante para garantir seu pleno desenvolvimento.
Strobel (2008, p. 44) destaca que “a língua de sinais é uma das principais marcas da identidade de um povo surdo, pois é uma das peculiaridades da cultura surda”. É essa a língua capaz de lhe transmitir e proporcionar a aquisição de conhecimento universal.
A família, a escola, a comunidade, todos compartilham seus saberes e crenças, suas histórias de vida. Mas é na escola, com o advento das ações inclusivas, com a presença do tradutor intérprete de Libras ou do professor bilíngue, que pode-se proporcionar ao surdo uma maior compreensão do mundo, através de uma comunicação visual-oral, ou face a face, conduzida por uma língua natural: a língua de sinais (Silveira; Silveira; Bonin, 2011).
Na fase da infância, a língua deve alcançar a criança por afinidade, de forma atrativa. Além do brinquedo, o momento do conto também pode ser um importante instrumento de estímulo à imaginação e a criatividade, e desencadear momentos de imersão no universo imagético. Se a experiência linguística for significativa, as narrativas podem ampliar o domínio linguístico da criança surda.
Azevedo (2006) chama a atenção para a importância da escolha da história e, também, para a qualidade das ilustrações, bem como para a performance do narrador, ou seja, para a forma como a história é contada, como é transmitida e como está estruturada. Alerta que, sem a arte da contação de histórias, a literatura fica empobrecida e o desenvolvimento da criança pode ser prejudicado.
Para Girardello (2014), os momentos de narrativas orais provocam no espectador a imaginação e a construção mental de novas imagens. Para ela, a escuta literária das crianças deveria ser tão intensa quanto a leitura literária dos adultos, ou até muito mais. Defende que essa escuta é o início do amor pela literatura, que “tanta felicidade e sentido poderá trazer à vida delas, nos seus anos de infância e futuro afora” (p.10).
Bahan (2006) considera grave que crianças surdas não tenham acesso natural às histórias. Essa falta pode lhes causar déficits nos níveis cognitivo, linguístico e emocional, dificultando a construção e o estabelecimento de sua identidade. Há que se respeitar a literatura, a literatura surda e o trabalho adequado às crianças surdas, com profissionais com competência linguística para atuarem como contadores de histórias.