1.2 Comunicação em língua de sinais e a construção do vocabulário científico

As relações estabelecidas, o convívio entre pares, o desenvolvimento da linguagem são adquiridos no período da primeira infância, na educação infantil e nos anos iniciais.

Seria desejável que o aprendizado estabelecido para as crianças ouvintes, em cada fase do ciclo escolar, também fosse cumprido para as crianças surdas. No entanto, alguns fatores acabam influenciando nesse percurso e, um desses fatores é a comunicação.

Precisamos compreender que, para o surdo, a língua portuguesa será a sua segunda língua, na modalidade escrita. E para isso ocorrer, é necessário um interlocutor de Libras para a aquisição da sua língua materna e, posteriormente, a apropriação da segunda língua. Mas, nos deparamos nas escolas com crianças surdas com atraso de linguagem.

Cruz (2016, p.34) explica que,

"A trajetória linguística de crianças surdas nem sempre conta com a língua de sinais sendo usada desde o nascimento de forma consistente. O fato de crianças surdas nascerem em lares em que a língua de sinais é desconhecida por seus pais (ouvintes) e por permanecerem por um tempo variável sem adquiri-la terá consequências no processo de aquisição da linguagem".

Nesse sentido, a escola tem um papel primordial na aquisição da língua de sinais, ou seja, nas escolas regulares, a presença de estudantes surdos não se restringe à comunicação aluno-intérprete. O meio onde esse estudante encontra-se deverá ofertar o contato com a Libras, bem como a todas as demais disciplinas do currículo. No ensino de Ciências da Natureza não é diferente. Incentivar o uso da língua de sinais, bem como dar sentido aos conceitos, devem ser priorizados.

Geralmente, as crianças ouvintes já trazem para o contexto escolar algumas experiências de palavras e situações nas quais ouviram os adultos falarem ou comentarem. Observe o que os autores Oliveira e Benite (2015, p.459) destacam:

Na escola, quando os alunos estudam o conceito da palavra “bactéria”, por exemplo, os ouvintes provavelmente já têm algum conceito espontâneo sobre essa palavra: situações cotidianas de quando a mãe fala que o filho tem de lavar as mãos para não se contaminar, não entrar em contato com germes, por exemplo, podem levar esse aluno a remeter o conceito de bactérias às doenças. A palavra “bactéria” já terá algum significado para essa criança, e é a partir desse significado que ele irá compreender o conceito científico de bactéria, tal como um micro-organismo, sem núcleo delimitado e DNA não organizado, com suas formas de reprodução e disseminação (Oliveira; Benite, 2015, p.459).

As crianças surdas nem sempre têm esse repertório construído da mesma forma. Isso porque, na maior parte dos casos, a língua de sinais não é utilizada pela família e as crianças surdas acabam deixando de construir conceitos por falta da linguagem. Por isso, é importante que na escola os educadores explorem os sinais das palavras e, ao mesmo tempo, apresentem a imagem e a forma escrita em língua portuguesa.