Módulo 3: Conceitos matemáticos e metodologias para ensinar crianças surdas (Livro Digital)
2.1 Construção dos conceitos matemáticos na Educação Infantil
Segundo a BNCC, “a Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações” (Brasil, 2018, p.43).
Diferente da criança ouvinte que, em geral, tem no âmbito familiar de seu dia a dia, todo esse contexto favorável proposto pela BNCC, chegando “pronta” para a escola, a criança surda não costuma ter vivências que “favoreçam a construção de conceitos matemáticos informais, como, por exemplo, a memorização da sequência de palavras-número, que muito cedo é conhecida das crianças ouvintes” (Nogueira; Borges; Frizzarini, 2013, p.167).
Segundo Kamii (2015, p.65)
[...] a criança não constrói o número fora do contexto geral do dia a dia. Portanto, o professor deve encorajar a criança a colocar todos os tipos de coisas, ideias e eventos em relação o tempo todo, em vez de focar apenas na quantificação.
O professor pode propor situações escolares nas quais as crianças utilizem os números relacionados à vida diária ou às brincadeiras e jogos em grupo.
A quantificação constitui uma parte inevitável da vida diária, como, por exemplo, distribuir copos de papel e guardanapos, dividir objetos igualmente entre as crianças, guardar peças de jogos de tabuleiros, dentre muitas outras.
Já os jogos em grupo proporcionam um contexto excelente para o desenvolvimento do pensamento geral e para a comparação de quantidades. É importante variar os tipos de jogos: jogos com alvos, jogos de esconder, jogos de corrida, jogos de pegar, jogos de adivinhações, jogos de tabuleiro e baralho etc.
Em 2021, a Diretoria de Políticas de Educação Bilíngue de Surdos - DIPEBS, vinculada ao Ministério da Educação - MEC, lançou um material com seis cadernos, que compõem uma Proposta Curricular para o Ensino de Português Escrito como Segunda Língua para Estudantes Surdos da Educação Básica e do Ensino Superior.
E, por que estamos falando de um material de português em um curso de matemática?
Simplesmente porque o português escrito como segunda língua é fundamental para os surdos se apropriarem e aprofundarem o conhecimento das outras disciplinas. Além disso, especificamente para a educação infantil, não há distinção entre disciplinas, logo, o caderno I desse material, que trata da educação infantil, é duplamente rico para quem vai atuar nessa etapa da educação com crianças surdas.
Recomendamos a leitura completa desse material.
Caderno I - Educação infantilVamos apresentar aqui algumas sugestões propostas no Caderno I, mas recomendamos que você faça a leitura completa do material.
Em relação ao objeto do conhecimento: Noção de tempo, noção de espaço, pode-se, por exemplo, relacionar conceitos básicos de tempo como: agora, antes, durante, depois, ontem, hoje, amanhã, e de modo, tais como: lento, rápido, depressa, devagar etc, por meio de imagens de contos, fábulas ou lendas.
Lembra da história A Lebre e a Tartaruga, na qual a lebre desafia a tartaruga para uma corrida? É uma boa história para você apresentar às crianças os conceitos lento, rápido, depressa, devagar. Você encontra o texto da fábula A Lebre e a Tartaruga, de Esopo, e também o vídeo em Libras disponível on-line e de forma gratuita.
Diversos gêneros textuais trabalham a noção de tempo de forma evidente. Assim, sua utilização em diferentes momentos da sala de aula, através de contação de histórias em Libras ou utilizando textos escritos, ajudam a criança a se apropriar dos conceitos.
Identificar relações espaciais como dentro, fora, embaixo, na frente, atrás, acima, abaixo, entre e do lado, por meio de imagens de tirinhas, de histórias de livros paradidáticos, de poemas visuais ou através de brincadeiras, como a amarelinha ou circuitos com bambolê.

Ao final da Educação infantil espera-se que a criança consiga:
- Associar o sinal dos algarismos em Libras com os algarismos indo-arábicos em situações que eles aparecem no cotidiano: número de telefone, endereço, placa de carro, documentos, idade, altura ou peso de si própria e de pessoas da família, ou ainda de personagens de histórias.
- Utilizar a datilologia com o recurso de memorização em brincadeiras que envolvam os números e sua representação pelos algarismos.
- Repetir os números através da sua representação em Libras e a representação gráfica dos algarismos.
- Articular a datilologia de forma clara, com um ritmo lento, a fim de ser bem compreendido pelo interlocutor, em situações dialógicas estabelecidas a partir de imagens, número escrito e que aparecem em textos trabalhados.
- Executar práticas da sequência numérica por meio da Libras.
- Relatar fatos importantes sobre seu nascimento e desenvolvimento; a história dos seus familiares, de sua comunidade, histórias de contos, fábulas e lendas conhecidas, por meio de registros gráficos (desenhos, palavras e frases) com atenção para os números que aparecem nestes contextos.
- Representar, pela escrita numérica, brincadeiras cotidianas, por exemplo, escrever com giz, no chão; com caneta, no quadro; com pincel, em cartaz, para registro de pontuação de jogos.
